O trabalho de Observação de jovens atletas em contexto competitivo leva-nos, muitas vezes, a pensar mais nos resultados alcançados do que nas possibilidades que são transportadas por cada jogador. É-nos muito mais fácil medir o nosso sucesso através de um resultado (por exemplo, considerando como “bom jogador” alguém que marca 20 pontos num jogo), do que deixar em aberto para o futuro, esperando quatro ou cinco anos (e todas as consequências dos bons e maus trabalhos que possam ser feitos pelos treinadores desses jogadores) até podermos confirmar a nossa intuição.
Mas, se não olhamos para aquilo que um jogador é capaz de fazer, o que procuramos, então, quando tentamos identificar um talento? O autor norte-americano John O’Sullivan dá parte da resposta num dos seus artigos. Citando um estudo de Piotr Unierzyski com uma população de 1000 atletas de Ténis, entre os 12 e os 13 anos, aqueles de entre eles que atingiram o Top 100 da modalidade reuniam as seguintes características:
-Eram três a quatro meses mais jovens do que a média de idades do grupo com que competiam.
-Eram mais magros e menos fortes do que média dos jogadores da sua idade.
-Eram mais rápidos e mais ágeis do que a média.
-Jogavam menos do que o número de jogos médio realizados pelos jogadores considerados de Top naquela idade.
-A sua média horária de treino era menor entre duas a quatro horas do que a dos jogadores de elite do seu grupo.
-Os seus pais apoiavam a sua atividade, sem estarem demasiado envolvidos.
Estes dados parecem contrariar a nossa necessidade de avaliarmos o trabalho com jovens atletas através dos resultados alcançados por eles. O número de vitórias conseguidos, o número de pontos ou ressaltos conquistados, dizem-nos muito pouco sobre o verdadeiro valor destes jogadores em termos futuros. Em lugar de mantermos uma filosofia do “ganhar agora”, interessará pensar no trabalho de longo prazo, onde a formação de jovens em ambiente desportivo e o desenvolvimento das suas capacidades ao seu próprio ritmo são mais importantes.
A receita de John O’Sullivan tem quatro pontos.
1º Não cortar jogadores em idades precoces. Deve-se desenvolver um largo número de atletas em lugar de centrar as atenções nos jovens considerados de elite. Isso permitirá a sua maturação e evolução natural.
2º Apoiar os atletas menos dotados em termos de capacidades técnicas, de forma a que se aproximem do nível dos atletas mais dotados. Isto permitirá que, numa etapa mais avançada da sua evolução, tenhamos um maior número de jogadores de onde escolher aqueles que serão a elite no escalão sénior.
3º Retirar a importância da competição nas idades mais jovens. O foco do trabalho com jovens praticantes deve estar no seu desenvolvimento e não nos resultados que estes possam alcançar em tenra idade.
4º Trabalhar com os treinadores para uma maior compreensão da diferença entre Seleção de Talento e Identificação de Talento.
Onde nos levará esta receita. Primeiro, teremos um número de atletas com capacidades técnicas desenvolvidas muito superior ao atual, permitindo uma atualização das escolhas para as seleções nacionais de cada escalão, mantendo-se, ao mesmo tempo, um grupo de jogadores que poderão florescer mais tarde. Em segundo lugar, ao não forçar jovens praticantes a tornarem-se jogadores de elite em tenra idade, iremos poupar no investimento, podendo reinvestir esse dinheiro mais tarde, em situações onde o aproveitamento dos atletas envolvidos seja maior. Finalmente, estaremos a contribuir para um ambiente mais salutar entre os jovens praticantes da modalidade, contribuindo desta forma para uma melhor imagem da modalidade entre aqueles que acabarão por abandonar a sua prática, podendo manter a ligação como treinadores, árbitros, dirigentes ou meros adeptos.
Luís Cristóvão