Semana 22: O regresso ao lugar do crime

Kevin Ware

Esta semana, devido a complicações de saúde, até tinha pensado fazer uma pausa nas reflexões, mas acabei por receber um email de um leitor, do qual destaco a seguinte passagem:

“Esta minha missiva, prende-se com a minha filha(e as filhas de muitos outros) que adoram jogar basquetebol, mas que a cada dia que passa cada vez enfrenta mais a dureza das adversárias. Ela tem 14 anos e não há jogo nenhum em que não traga mazelas para casa. Este fim de semana (…), em 12 minutos sofreu três quedas, braços completamente arranhados, e teve que sair lesionada. O que devia ser agressividade defensiva é intimidação e agressão física. Vi empurrões nas costas, rasteiras, joelhadas e muitas unhadas. Ao fim de cinco minutos os Pais já incitavam a minha filha e colegas a agredir as adversárias.”

Este assunto já tinha sido abordado por mim num outro texto. Mas é bom regressar ao tema porque, infelizmente, não só é atual como podemos vê-lo repetido em diferentes campos, um pouco por todo o país.

Falo de uma incompreensão generalizada para abordar a diferença entre a agressividade (que num jogo e na vida é salutar, quando revela vontade para cumprir objetivos) e a agressão (que, seja em que terreno for, é condenável). Falo também de uma incapacidade total de empatia que afeta treinadores, seccionistas, árbitros e pais, perante o facto de estarem em jogo crianças e jovens.

Não, o objetivo não é, como terei sido interpretado no passado, o de acabar com a competitividade nas idades de formação. Pelo contrário, só num quadro de competição onde todos são respeitados, há evolução possível. No meio da agressão, não sobrevive a técnica, não se formam jogadores e não há jogo que possa ter continuidade nos escalões mais altos.

O exemplo que este leitor nos trouxe está disseminado pelo basquetebol (sobretudo num momento em que se começam a disputar títulos e acessos aos nacionais, um pouco por todo o país) e acaba por ser uma cópia do pior que podemos assistir em competições de jovens de outras modalidades, nas quais casos tristemente célebres vão fazendo manchetes.

Como treinador, tenho para mim que é no técnico da modalidade que se deve exigir a responsabilidade de todos os que nos rodeiam. É o treinador que tem que saber enquadrar as atitudes dos pais, gerindo a sua própria presença na equipa e fazendo com que esse conjunto influencie positivamente o seu grupo de jogadores/as. Precisamos que o jogo do basquetebol volte a ser um jogo de basquetebol, e não um campo de vaidades, batalhas ou eventos inconsequentes. Precisamos, sobretudo, que as pessoas tenham bons exemplos para relatar e divulgar, de maneira a atrair mais gente para a modalidade. Para quem não for esse o caminho, estará no caminho errado.

Amanhã há treino!

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