Semana 19 – Hoje gostaria de dedicar este artigo a falar, exclusivamente, daquilo que aconteceu dentro de campo, onde duas equipas muito equilibradas deram tudo para vencer o jogo, mantendo-se sempre muito perto no marcador, falhando e acertando muitas vezes, para que, no prolongamento, uma dessas equipas ganhasse por um ponto. Gostaria de dedicar este artigo a tentar explicar às minhas jogadoras que perder por um ponto é sinal de que poderíamos estar mais concentradas numa determinada jogada, poderíamos ter evitado ser ultrapassadas, poderíamos ter evitado deixar de lutar por uma bola e, isso só, seria o suficiente para vencer o jogo. Seria uma importante lição de vida, perceber que cada pormenor acaba por poder ter um enorme peso no resultado final das coisas. Mas não, hoje, correndo o risco de me repetir, vou voltar a falar daquilo que me voltou a ensombrar uma manhã de domingo que deveria ter sido de alegria, a fazer uma coisa que eu gosto muito, com crianças que fazem uma coisa que gostam muito, sendo, até, frente a uma equipa onde há várias amigas de treinadores e jogadores.
Porque hoje, voltei a ver gente sem a mínima noção do que é partilhar um espaço com crianças e agir conforme a sua condição de adulto. Gente que, não se conseguindo controlar, deveria evitar marca presença nestes ambientes. Porque aquilo que fez é tão errado, desproporcionado e afeta de tal maneira a vida das crianças que estavam no mesmo espaço, que merece algum tipo de castigo.
O mal começa, infelizmente, de cima, porque existe uma Federação e uma Associação que têm responsabilidades na organização de competições mas que não as assumem. Não as assumem permitindo que se continuem a disputar jogos onde não há árbitros nem ninguém com uma formação para garantir a disputa dos mesmos. Essas instituições acham que é possível fazer-se um jogo sem que a mesma indique uma pessoa para arbitrar o jogo ou uma pessoa para estar na mesa do mesmo, sendo que a presença dessa pessoa, formada para tal, deveria obrigar os restantes intervenientes a respeitar as regras e regulamentos do jogo.
O mal começa, também, no meio, porque nos clubes existem dirigentes que até preferem que as coisas sejam assim. Não havendo árbitros ou mesa nomeados, não há custos para a realização do encontro. Não havendo presença de nenhum oficial, também não é obrigatório destacar uma pessoa para a função de segurança no recinto. Faz-se uma pequena poupança com o número de jogos em que não existem árbitros e mesa designados. E os dirigentes que se satisfazem com essas poupanças, têm também culpa nisto.
O mal começa, também, por baixo, onde treinadores, como eu, não estão preparados para assumir responsabilidades em atividades com crianças. Não percebem que quem foi convidado a apitar o jogo não tem formação para tal e merece, dessa forma, o respeito devido por se voluntariar a uma tarefa tão amarga. Não percebem que estão obrigados a intervir junto da assistência da sua equipa – pais, familiares, amigos – de forma a controlar os ânimos e não deixar que estes coloquem nas crianças que estão em campo uma pressão que em nada contribui para a sua formação. Não percebem que só controlando o seu próprio comportamento podem influenciar positivamente o ambiente que se vive no pavilhão.
Que existem pessoas que são umas bestas em todo o lado, isso é inegável e, digo mesmo, inevitável. Mas em todo o lado há também gente que prefere que as coisas se organizem e concretizem num ambiente de divertimento e paz, que nos torne, a todos, melhores pessoas e melhores atletas. Infelizmente, chega, por vezes, uma besta, para influenciar todos os outros à “inevitabilidade” da frase “o desporto é mesmo assim”. Não, não é. O desporto não é nada assim. O clubismo e o analfabetismo social talvez sejam. O desporto, continuo eu a acreditar, é outra coisa que não inclui crianças a chorar, dentro do campo, a perguntarem-me se aqueles adultos não percebem que elas são “só” crianças. Crianças.