Luís Cristóvão

Abdicar da vitória, ao abdicar do estilo

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Portugal entrou com um empate no Euro 2016. Depois de uma primeira parte em que deu claros sinais, na organização ofensiva, de ser uma equipa muito superior ao seu adversário, cedeu o empate no início da segunda parte, num erro de posicionamento defensivo, e foi abdicando do seu estilo para abordar os minutos finais muito à Século XX, com quase toda a carne no assador. Felizes os islandeses que foram contando com a inspiração de Halldorsson na baliza.

Começando pela abordagem inicial das duas equipas, Portugal surpreendeu com André Gomes a surgir do lado direito e João Mário caído pela esquerda. Isso fazia com que houvesse muita bola para o valenciano, enquanto o jogador do Sporting teria uma missão mais de apoio às subidas de Raphael Guerreiro. Na prática, esta opção tirou João Mário do jogo, sempre incapaz de brilhar no flanco esquerdo, bem como fragilizado perante um miolo onde a Islândia impunha músculo. Foi então muito pela ação de André Gomes que Portugal conseguiu colocar bola na área, com Nani e Cristiano Ronaldo muito ativos. O golo surgiria de um lance do camisola 15 que encontrou o avançado do Fenerbahce em posição de finalizar.

Parecia que Portugal tinha o jogo dominado, mas um erro clamoroso de posicionamento defensivo permitiu a Bjarnason chegar ao empate. A Islândia conseguiu criar situações de perigo a partir das segundas bolas conquistadas, muito pela ação do seu ponta-de-lança Sighthorsson, que saía quase sempre dos duelos aéreos. Mas acabou por ser no chão que Portugal cedeu o golo. Começava a ser gritante a necessidade de ter Renato Sanches em campo, em busca de desequilibrar a defesa islandesa. E foi aí que Fernando Santos acertou, tirando João Moutinho do jogo. O problema foi que, logo a seguir, tirou também João Mário, quando este parecia, finalmente, ter espaço, e lançando Quaresma à procura de fogosidade, Portugal regressou ao século XX.

Os últimos quinze minutos foram com toda a carne no assador. Haveria ainda de entrar Éder para o lugar de André Gomes e ficámos com Portugal partido ao meio, quatro elementos bem isolados na frente, na maior parte do tempo com cada um a jogar por si, Renato Sanches à solta e depois as linhas mais recuadas com os laterais já sem forças para acompanhar o ritmo que a partida levava. O jogo ficou partido e não se viu mais cabeça nem fio de jogo para justificar outro resultado. Poderia ter caído do céu, a partir de um dos lances de bola parada, mas os deuses não estiveram para permitir que este regresso ao passado se carimbasse com três pontos.

Sábado há mais.

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