Hoje não consegui ver os jogos do Euro, por compromissos inadiáveis. Entre eles, a amizade e a companhia de amigos de longe. Mas a alguns minutos do jogo de Portugal, lá estávamos nós, no café, prontos para pedir o jantar e acompanhar o jogo da Seleção. Foi então do café que hoje vi o que aconteceu com a equipa de todos nós.
Acompanhar um jogo com amigos, enquanto se janta, onde se vai bebendo um bom tinto, é toda uma experiência diferente. Quando parte do grupo é brasileiro e as referências são Romário, Bebeto, Ronaldinho Gaúcho, Petkovic e todas as equipas do Flamengo, a conversa é logo outra. Da minha mesa, viu-se Portugal a afundar perante uma insignificante Áustria com toda a tranquilidade.
O pior eram as outras mesas. O pior, não para mim, mas para quem olhava o que acontecia do ponto de vista do adepto que acredita que a nossa seleção é superior a tudo. Hoje houve quem arrancasse cabelo, quem quase chorasse, quem maldissesse toda a ascendência do Cristiano Ronaldo e do Fernando Santos.
E porquê? Porque alimentámos demasiadas expetativas ou porque fomos irrealistas a entender o estado real da equipa de Portugal antes de começar este Europeu? Não, não me parece que seja por isso. Mas apenas porque a equipa nacional insiste a repetir o fado do costume. Contra equipas mais frágeis, dar o máximo não é opção. E sim, podíamos aqui culpar os jogadores, com especial incidência para aqueles que são melhores ou ganham mais, mas acho que nem será por aí.
O problema português não são os jogadores. O problema português é que mesmo aqueles que têm responsabilidades técnicas e diretivas na equipa consideraram que este grupo era fácil demais para entendermos o que nos esperava. E tal como não entendemos o que nos esperava na partida contra a Islândia, também não entendemos o que nos esperava no jogo contra a Áustria.
Por isso, o que me custa não é tanto o aquilo que temos como potencial, mas aquilo que desperdiçamos continuamente. Que a gestão da Seleção continue a ser feita por quem pensa que está no café e sofra eternamente das surpresas que os outros nos impõem. Porque não há razões para ficar espantado quando planos relativamente básicos chegam para nos parar. Há, sim, razões para entender que já fomos demasiadas vezes “enganados” para continuar a cair na mesma armadilha.