Luís Cristóvão

Da boca para fora

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Não vamos fazer resumos do jogo mais louco deste Europeu. Um empate a três golos com a Hungria seria um resultado no qual poucos acreditariam, no início desta prova, mas acaba por ser aquele que se impôs num encontro em que Portugal quis ganhar mas, na maior parte do tempo, não soube como, e a Hungria, conduzida pela emotividade de jogar apurada, foi encontrando o caminho do golo em lances de alguma arbitrariedade. Houve o lado positivo dos dois golos de Cristiano Ronaldo, sobretudo o primeiro, mas também o lado negativo de muita permissividade defensiva. A loucura define bem o que se passou durante 80 minutos, quando Fernando Santos colocou Danilo no lugar de Nani e esperou pelo fim da partida.

É que o jogo mais louco deste Euro acabou da forma mais infame. Dez minutos com a Hungria a trocar a bola, sem intenções de colocar em risco o seu primeiro lugar, enquanto Portugal também descia linhas e não parecia ter acordo, sequer, entre os jogadores. Enquanto alguns ainda lutavam para chegar ao quarto golo, outros cumpriam as ordens que vinham do banco para ficar à espera.

À espera do quê? As opiniões dividem-se. Para uns, seria melhor chegar aos oitavos-de-final do lado onde estão as equipas menos fortes, para outros, havia a possibilidade de voltar a encontrar a sempre dócil Inglaterra. O segundo lugar, no entanto, fazia-nos estar no caminho de todos os tubarõe deste Euro, enquanto o primeiro ou o terceiro lugar nos colocariam no caminho a Bélgica (que não assusta) ou a Croácia (das equipas mais fortes em prova, neste momento). Defender o empate deixava-nos em segundo – com Inglaterra, para já, e um mar de tubarões a seguir -, mas com a Islândia a atirar-se ao golo nos descontos da sua partida frente à Áustria, Portugal acaba em terceiro e, com isso, terá que defrontar a Croácia, mas depois com um caminho algo desanuviado até à hipotética final.

Aquilo que ninguém parece ter pensado, na equipa técnica portuguesa, é que independentemente da classificação, a melhor forma de chegar aos oitavos-de-final era a ganhar. Porque o que a história do futebol nos diz é que aqueles que jogam para ganhar, ganham mais vezes. Porque foi aquilo que Fernando Santos tinha prometido, jogar para ganhar. Porque é isso que faz com que os adeptos apoiem a sua seleção, quando esta dá tudo para ganhar. Caso contrário, sugere que tudo aquilo que foi dito terá sido da boca para fora. Da boca para fora. Da boca para fora.

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