Luís Cristóvão

O dia em que nos roubaram o sonho

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O 23 de junho de 1984 será o dia mais falado, escrito, relembrado da história de Portugal nos Europeus de futebol. Por ter sido um dia épico, numa época de renascimento da relevância do país nos relvados europeus, por nos ter permitido ter estado quase lá, derrotando os organizadores da prova. Quase sempre este dia é lembrado a partir da ideia dos pequenos portugueses contra os gigantes franceses, mas é curioso que a mesma história, vista do lado contrário, tem outros tons.

Os franceses vinham de uma eliminação traumática perante a Alemanha em 1982 e muitos acreditavam poder reencontrar os germânicos nas meias-finais. Portugal surpreendeu e, se por um lado parecia um adversário mais acessível, por outro tinha o peso da responsabilidade a cair para o lado dos franceses. Para piorar as coisas, no caminho até ao Estádio, o autocarro que transportava a equipa teve uma acidente, conseguindo o condutor, mesmo ferido, impedir que o mesmo capotasse, fazendo-o chegar a tempo. Os nervos na equipa estavam eletrizados, sendo que vários jogadores pareciam já um pouco incrédulos das suas capacidades.

Os relatos de quem esteve no jogo apontam dois fatores para a capacidade de superação da equipa. O primeiro, o contexto do jogo, com o Estádio do Vélodrome completamente cheio a empurrar a equipa para a recuperação. O segundo, Jean Tigana, que apesar de estar com dificuldades físicas se superou nesse momento do prolongamento para atirar a França para a final.

É que haviam, em confronto, dois sonhos. Se o nosso ficou adiado, o dos franceses acabou por se cumprir.

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