Ontem, durante o prolongamento, falava-se no desejo de ver regressado o golo de ouro*, uma situação em que Portugal marcasse e por aí ficasse o jogo. No entanto, para mim, essa foi uma das medidas experimentadas pela FIFA que mais magoou o futebol. Esta ideia de, em jogo jogado, ter um golo que acaba com tudo faz-me recuar até ao recreio da escola, onde depois do primeiro toque, quem marcasse um golo ganhava, fazendo terminar a partida e levando ao regresso à sala de aula.
Mas, pensar no golo de ouro é também regressar ao 1 de julho de 2004, sentado ao balcão do “Biblioteca Café”, a ver o República Checa – Grécia. Os checos tinham contas antigas connosco, desde 1996, para além de transmitirem a sensação de, enquanto conjunto muito ofensivo, serem o adversário ideal para que Portugal cavalgasse uma grande final. Com os gregos, as contas eram recentes, e o seu jogo de ilusionistas, que paravam o ritmo para aparecer, depois, em lances isolados a fechar a partida.
Nesse dia, no Estádio do Dragão, o herói foi Traianos Dellas, a ter que baixar-se para, ao primeiro poste, empurrar a bola vinda de um canto marcado por Tsiartas para ganhar o bilhete para a final. Lembro-me de pensar, nesse momento, que nos esperava um momento difícil no domingo seguinte. Alguém, olhando o televisor, perguntou: “foi golo? e agora?”. Agora acabou, disse eu, que nunca gostei de golos de ouro.
*na verdade foi um golo de prata, como tinha ideia quando comecei a escrever o texto, mas na pesquisa para escrever o artigo encontrei várias vezes a menção ao golo de ouro, porque, de facto, o jogo terminou por ali, sendo o final da primeira parte do prolongamento. Ou seja, foi um golo de prata com valor de ouro. Vocês percebem.