Pensem numas meias-finais de um Euro em que estão presentes o país organizador, o atual campeão do mundo e os dois jogadores europeus que mais buzz provocam no futebol mediatizado que temos nos nossos dias. É isso mesmo. Estamos no Século XXI e os deuses do futebol não estão loucos – apenas nos oferecem aquilo que nós nem sabemos que queremos.
Se passarmos para os nomes das quatro seleções presentes nestas meias-finais, então já há quem torça o nariz. Porque Portugal “só defende”, porque o País de Gales “não tem história”, porque a França é a França e a Alemanha ganha sempre no fim. Não estão satisfeitos com isto? Meus amigos, foram vocês que pediram!
A equipa portuguesa respeita, em campo, aquele que é o seu ADN. Ignorem velhas histórias de Conquistadores e Descobertas, Portugal é esta mistura de talento com extrema dedicação ao trabalho, capaz de se rasgar em campo para sair vencedor, mesmo quando todos os outros torcem o nariz. Eu sei que, por cá, há muita gente em negação. Mas quando lá fora pensam no futebol português é exatamente isto que encontram: a enorme qualidade defensiva que as equipas de José Mourinho ou Leonardo Jardim fazem brilhar na Europa, os jogadores que, sendo artistas, estão disponíveis para dar o litro – ora se até o Cristiano Ronaldo passou a jogar em equipa agora, o que é preciso é ter cuidado.
Já o País de Gales segue na mesma linha de pensamento, demonstrando o que poderia ser o futebol inglês se não existisse esse aburguesamento idiota de se acharem melhores que todos os outros quando não o são. Muita alma na defesa, mesmo quando não há grande rigor, um ou outro artista para organizar o pensamento no jogo e pontas-de-lança como a modernidade já não aceita em lado nenhum. E, depois, e tudo o resto falhar, Gareth Bale.
A França é a França e muito chorarão os franceses se Didier Deschamps, depois de ter feito o melhor jogo do campeonato com o onze organizado para que Antoine Griezmann lidere a banda, voltar a fechar portas para tentar não perder. O país organizador sonha, também, com grandes feitos e novas estrelas, ainda que os melhores pareçam ainda demasiado novos para assumir tais pesos sobre as costas. Mas o facto de jogarem perante a Alemanha coloca-os, também, olhos nos olhos com a história e a sede de vencer pode dar resultado.
E depois a Alemanha, que ganhou o Mundial em 2014 e, segundo fala a experiência, também estão na linha da frente para conquistar este Europeu. São a equipa que é mais equipa, mais sólida em todos os aspetos do jogo, ainda que tenham de abordar este encontro sem uma peça em que uma das linhas, Hummels na defesa, Khedira no meio, Gómez no ataque. A Alemanha entra com onze em campo, mas também entra com a história, sabendo de antemão que é um dos piores pesadelos dos franceses.
Aliás, se há coisa bonita nestes três jogos que faltam é o ajuste de contas que todos parecem ter um com os outros.
Portugal vê caminho livre perante uma equipa britânica, mas uma palavra a dizer perante o adversário da final, seja ele francês ou alemão. Os galeses não querem vingar a Inglaterra perante Portugal, querem sim demonstrar-lhes como lhes podiam ter ganho noutras ocasiões. Entre França e Alemanha, a história é o que é, sendo que tanto uns como outros preferiam não ter que enfrentar uma equipa onde o Cristiano Ronaldo pode, como dizia um jornalista francês ontem à noite, na France 24, acordar a qualquer momento.
Cá para mim este Euro está a ser do melhor.