Gold Cup 2017: uma visão ao microscópio do ouro americano

O campeonato de selecções da CONCACAF tornou-se um feudo para Estados Unidos da América e México desde que, em 1991, se reorganizou sob o nome de Gold Cup. Desde então, a prova teve sempre os Estados Unidos como país organizador, com a colaboração de México e Canadá em algumas ocasiões, sendo que a lista de vencedores também se reduziu para incluir apenas as mencionadas selecções (e o Canadá apenas por uma vez).

Tratado à distância como uma competição menor, ao que deve ser associado o facto de, aparentemente, a prova deste ano nem sequer ter transmissão na televisão portuguesa, a Gold Cup tem sido, no entanto, um terreno fértil para a descoberta de jogadores com elevado potencial, para além de ser uma das melhores formas de recolher informação sobre uma Confederação que tem tido relevo nos Mundiais de futebol. Para além das exibições de Estados Unidos e México, também a Costa Rica tem encontrado forma de se destacar, enquanto as Honduras, apesar de repetidas presenças, ainda não conseguiram captar a mesma atenção.

Os favoritos do costume

Não podemos fugir ao facto de ter os Estados Unidos e o México como os grandes favoritos à vitória na prova. No entanto, chegam à competição com contextos bem diferentes. Para o conjunto orientado por Bruce Arena, este é um momento de preparação para atacar o grande objectivo de marcar presença no Mundial da Rússia e com o devido destaque. A convocatória do veterano que recentemente voltou à selecção yankee inclui, por isso, um misto de experiência e novidade que pretenderá marcar como imagem da sua equipa. Se, por um lado, jogadores como Brad Guzan, Omar Gonzalez, Alexandro Bedoya, Dax McCarty e Graham Zusi permitem a este bloco apresentar-se como compacto e conhecedor das exigências competitivas, jogadores como Jordan Morris, Gyasi Zardes, Matt Miazga, Cristian Roldan ou Kellyn Acosta marcam uma nova geração que, muito em breve, tomará conta da equipa. Merece destaque, também, a estreia de Dom Dwyer, avançado profícuo na MLS que, aos 26 anos, com a nacionalidade estado-unidense recentemente adquirida, se poderá tornar num caso sério.

A situação mexicana é bem diferente, desde logo porque o seu treinador Juan Carlos Osório, com duas competições este verão, optou por levar a sua equipa principal à Taça das Confederações e apresentar-se na Gold Cup com um conjunto seleccionado da Liga Mexicana, com a excepção de um elemento que actua na MLS. A opção, por si só, não deveria constituir-se como um problema, mas as constantes críticas que o técnico colombiano vem recebendo não o deixam em boa posição para muitos testes. A sua equipa terá alguns elementos com alargada experiência em termos de selecção, como Jesús Molina, Hugo Ayala, Jesús Dueñas e o guarda-redes José Jesús Corona, mas poderá sofrer por falta de dinâmicas colectivas, sobretudo com um técnico que costuma ser bem exigente a esse nível. A presença de Erick “Cubo” Torres na convocatória poderá oferecer espaço para que o goleador se afirme, pela primeira vez, na principal selecção do seu país.

Experiências não descartáveis

As outras duas selecções de perfil alto nesta competição confrontam-se no Grupo A da mesma. A Costa Rica tem encontrado no Mundial o seu território de afirmação preferido, sendo claro que chega à Gold Cup com claras intenções de modificar essa tendência. A experiência do grupo orientado por Óscar Ramírez é elevada e apenas a ausência de Keylor Navas o fará não estar na sua maior força. Ainda assim, as presenças de jogadores como Bryan Ruiz, Johan Venegas, Joel Campbell, Rodney Wallace, Gamboa e Yeltsin Tejeda são garantias de um onze fortíssimo e com a possibilidade de brilhar na Gold Cup.

As Honduras, lideradas pelo “mago” Jorge Luís Pinto, são uma das selecções com melhor currículo recente na Gold Cup e, uma vez mais, farão por merecer essa distinção. A solidez que o conjunto hondurenho costuma apresentar em termos defensivos vai sendo completada por uma nova geração que tem no ataque as suas armas principais. Jogadores cmo Anthony Lozano, Romell Quioto e Alberth Ellis poderão constituir um tridente ofensivo diferenciador, numa equipa que tem pedigree na prova e, em caso de vitória no jogo inaugural frente aos “Ticos”, poderá mesmo lançar-se para nova presença no pódio.

Outras duas selecções poderão também conseguir justificar o estatuto que detém na CONCACAF. O Panamá regressa com a liderança do avançado Gabriel Torres, um talentoso de quem se esperava outro tipo de carreira, mas sempre capaz de destabilizar uma defesa. A equipa apresenta, no entanto, opções como Aníbal Godoy ou Miguel Camargo, para além dos “portugueses” Ricardo Clarke e Ismael Díaz, num grupo onde Fidel Escobar e Gabriel Gómez também sabem o que é ter jogado em solo luso.

A Jamaica vem de uma derrota na final da Taça das Caraíbas, mas apresenta um plantel reforçado para atacar a Gold Cup, ficando a dúvida sobre se o técnico Theodore Whitmore conseguirá dar rumo a uma equipa que, pelo talento disponível na baliza, com Andre Blake, com os rápidos laterais Alvas Powell e Kemar Lawrence, bem como com jogadores como Ja-Vaugn Watson, Jermaine Taylor, Romario Williams e Darren Mattocks, poderia atingir um nível bastante mais alto do que aquele que tem vindo a apresentar.

As incógnitas do costume (e algumas novidades)

O Canadá tem sido o país que, apesar do potencial apresentado pela aposta feita na sua Federação, mais tem demorado a apresentar resultados. O maior talento da nova geração canadiana, Cyle Larin, falha a prova depois de um problema extra-futebol, pelo que o foco acabará por se concentrar noutros jovens que vão tomando espaço na equipa orientada por Octavio Zambrano. Raheem Edwards (21 anos), Anthony Jackson-Hamel (23 anos) e Alphonso Davies (17 anos) serão as principais apostas para figuras de capa, enquanto elementos como Jonathan Osorio ou Fraser Aird podem também ser elementos consistentes. Ainda assim, a equipa apresenta ainda os experientes Steven Vitória, Tosaint Ricketts, Marcel de Jong ou Patrice Bernier, o que deveria ser suficiente para ambicionar a um bom resultado.

A selecção do Curaçao é a grande sensação do futebol da CONCACAF, depois de ter vencido a Taça das Caraíbas e apresentado uma evolução notória, que se explica, sobretudo, pela inclusão na equipa de uma série de jogadores que foram formados na Holanda. Cuco Martina e Leandro Bacuna serão os jogadores com maior cartaz, enquanto Gino van Kessel, Gevaro, Elson Hooi e Felitciano têm alcançado algum destaque com a camisola desta pequena ilha. Atingir uma fase avançada da Gold Cup justificaria o sonho de, a médio prazo, poder atacar uma presença no Mundial.

Uma atracção constante na Gold Cup é, também, a presença de selecções que não pertencem à FIFA, mas que podem participar no campeonato continental. Territórios franceses, a Guiana Francesa e a Martinica atingiram a fase final, trazendo para a prova algumas caras conhecidas, como Kévin Olimpa, Jordy Delem e Johan Audel (na Martinica), Sloan Priva, Ludovic Baal e Florent Malouda (na Guiana Francesa).

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