Luís Cristóvão

Guardiolismo no Atlético Mineiro

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A confessa admiração de Pep Guardiola pelo talento do jogador brasileiro e a sua influência na forma como se vê o futebol nos nossos dias tornavam uma questão de tempo até que chegasse, a uma equipa do topo no Brasil, uma tentativa clara de emular o pensamento de jogo do técnico catalão. Thiago Larghi é quem, com a oportunidade criada enquanto interino, pretende elevar o Guardiolismo no Brasil.

O mau início de temporada do Atlético MG levou à saída de Oswaldo de Oliveira do comando técnico e a escolha de Thiago Larghi para ser o interino da equipa. As mudanças promovidas pelo jovem treinador, que tem no seu passado o trabalho como analista na Seleção brasileira, têm levado a uma espera quando à tomada de decisão sobre a sua continuidade ou a chegada de um outro técnico. Num contexto em que os resultados mandam mais que tudo, as ideias de Larghi parecem ser uma boa base para o futuro.

Uma ideia de construção de jogo

É um pedido meu. Se a gente observar, tem tido sucesso. Temos chegado no terço ofensivo muitas vezes. De dez, a gente está chegando entre sete e oito, chegando construindo a jogada. Isso é difícil de fazer, é muito mais simples dar chutão. O que me foi pedido e confiado, com o grupo de jogadores que eu tenho na mão, eu acredito que a gente consegue sim fazer um jogo bom, propor o jogo e chegar aos resultados que a gente pretende.

Num futebol ainda muito marcado pela entrega da primeira fase de construção aos jogadores do meio-campo, a ideia de construir em passe a partir de trás soa a inovação. Ainda que perante muitos comentários sobre o risco assumido, a verdade é que uma das qualidades da equipa de Thiago Larghi passa pela maneira como conjuga essa noção de controlo.

Depois de um primeiro trabalho com a equipa a nível defensivo, impondo alguma organização de modo a impedir que a equipa sofra muitos golos, no jogo das meias-finais do campeonato mineiro, a equipa do Atlético demonstrou essa capacidade de controlo da partida, somando mais de 60% de posse de bola, privilegiando o passe e criando muitas oportunidades de golo.

A equipa de Thiago Larghi impõe uma filosofia de jogo que demora tempo a expressar-se dentro do terreno de jogo, pela necessidade de treino e de prova em competição. Mas o facto de os próprios jogadores sentirem que é cada vez mais fácil (e com resultados) seguir esta opção, a construção da confiança solidifica a opção tomada nas ideias.

O diálogo e a prática

Internamente, dentro da comissão técnica, a gente trabalha, é nosso papel levantar as possibilidades. A gente ouve até os comentários dos torcedores, ouvimos todo mundo. Mas o nosso trabalho fica muito em função naquilo que a gente vê no dia a dia, do modo como a gente pensa o jogo.

Uma das citações retiradas das conversas de Thiago Larghi com a imprensa, é essa ideia de diálogo contínuo, que vem, necessariamente, da sua experiência de analista. Parte grande do trabalho daqueles que estão na retaguarda é o compreender as ideias de quem lidera, argumentando com observações e análises para a melhoria das suas decisões.

No momento em que Larghi assume o comando de uma equipa, essa ideia de diálogo não se perde, valorizando o contexto em que está inserido. Quebrado o mito do treinador enquanto entidade que está longe de tudo e decide por si só, o assumir do ouvir “todo o mundo” é uma assunção clara de que para se ser forte, não se precisa de parecer inalcançável. É, aliás, na certeza do seu pensamento, e na segurança com que o expõe, que o treinador pode encontrar caminho para o melhorar.

Vídeo com Thiago Larghi, quando este era técnico assistente no Sport:

Pep Guardiola e os seus amigos

Sou um cara que sempre estudei e tentei compreender o jogo, pois o futebol é um esporte que brilha aos nossos olhos. Desde as equipes como o Milan, do Arrigo Sacchi, e o Barcelona, do Guardiola, até o Brasil, do Parreira, que organizou o futebol brasileiro, assim como o Felipão. Mas tenho um encanto pelo Guardiola, em especial, com seu futebol ofensivo.

As primeiras impressões deixadas pelo Atlético MG de Thiago Larghi não poderiam estar mais longe daquilo que as suas ideias preconizam para o funcionamento global da sua equipa. O próprio facto de um treinador se permitir o luxo de reivindicar ideias, pensamento, organização acima da necessidade do resultado, expressa bem uma mudança comportamental necessária nos clubes brasileiros.

Sem dúvida que, sem os resultados, as ideias não encontram o oxigénio necessário para respirar. Mas é na construção de um modelo que não tem receio de beber nas suas mais diversas influências, desde Sacchi a Guardiola, até Parreira e Scolari, que o percurso de Thiago Larghi pode prometer algum tipo de inovação no jogo e na forma de se falar deste.

Enquanto a administração da equipa espera analisar o rendimento da equipa por aquilo que esta conseguir fazer até ao final do campeonato mineiro, Thiago Larghi já aproveitou o seu pouco tempo de trabalho para montar uma equipa que tem um propósito, revelando-o de forma inequívoca para quem acompanha o futebol brasileiro. Com paciência e uma pitada de sorte, poderá ser-lhe permitida a montra maior de começar o Brasileirão na frente deste conjunto.

 

Citações de Thiago Larghi retiradas dos sites da GloboEsporte, SuperEsportes e O Tempo. Vídeo retirado do site Eu pratico Sport. 

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