Vinte e oito anos não passam depressa, por isso posso dizer que foi já há muito tempo aquele jogo de Viena. Para um miúdo de oito anos, a capital austríaca era logo ali, na televisão, onde o futebol só aparecia em momentos de enorme solenidade – por isso, semanas antes, tinha visto com respeito a vitória do Porto em Kiev, por isso com igual seriedade ficaria encantado pelo Desportivo de Chaves – Honved, uns meses depois.
Lá em casa ninguém era do FCP, ainda que o meu irmão fosse do Gomes, porque tínhamos conhecido o bibota na Serra da Vila, mais o seu carrão vermelho, quando ele foi almoçar ao restaurante do “Zé Inácio” no dia em que os Dragões jogaram com o Torreense para a Taça de Portugal. Não havia Gomes, mas havia festa. Os dois espalhados pela sala como que hipnotizados perante o Futre, o Madjer ou o Juary – e talvez fosse mesmo o brasileiro, porque suplente, porque improvável, aquele que eu mais admirava – frente a um Bayern onde todos eram mais fortes, ainda que com uns pouco impressionantes calções azul-bebé.
Não havia nada mais do que um jogo, uns heróis, um relvado, na televisão. Não importavam as discussões, as guerras, as rivalidades, o que fosse. Depois foram os golos e os dois a saltar em cima do sofá, o FC Porto era campeão europeu, que coisa tão nova e maravilhosa para um miúdo de oito anos. Foi por dias assim que, pelo menos no futebol, nunca nos sentimos pequenos perante a Europa. Começou há vinte e oito anos, naquele jogo de Viena.