Luís Cristóvão

A jogadora do futuro e o futuro da jogadora

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Semana 15 – O trabalho de um treinador de formação é feito com um pé no presente e um pé no futuro. No presente está tudo aquilo que deverá alimentar o lá vem. Mas não pode este treinador querer fechar todos os capítulos de um livro que está apenas no início. Esse é um problema que só se resolve com uma consciência total das etapas que cada jogadora terá que percorrer bem como o momento atual da mesma jogadora nessa caminhada até ser uma atleta completa.

Mais difícil ainda é que seja a própria jogadora a perceber esse momento. Por isso encontramos tantas vezes jogadoras que querem acelerar a sua caminhada sem perceber que cada degrau deve estar forte e consolidado antes de podemos pisá-lo e construir o seguinte. Só quando percebemos o jogo por inteiro podemos aspirar a torná-lo mais completo e, no fundo, o jogo de basquetebol é um espaço que se forma da conjugação de muitas coisas simples que, no seu final, se podem apresentar como uma teia de complexidades.

O seu entorno também poderá não ser favorável. É óbvio que todos queremos o melhor para cada uma das atletas, mas é imprescindível que se perceba que o caminho para o sucesso é feito de muitos insucessos. Treinos maus, jogos maus, períodos maus, são fundamentais para que o jogador conheça as suas dificuldades e encontre, em si, estratagemas para as conseguir ultrapassar. O trabalho do treinador não se fixa em ensinar e guiar as suas jogadoras. Alarga-se ao facto de ter que saber construir-lhe dificuldades e exigências para que ela se supere.

Para além de tudo isto, há a necessidade de perceber quem será o jogador do futuro. Em diálogo com quem trabalha na seleção de talentos para um nível competitivo muito elevado, não é de jogadores “acabados” que se fala quando se procura talento. Pelo contrário. Procura-se características físicas (as que não se ensinam, mas que podem ser incentivadas à participação), capacidades motoras, forma de estar no treino e no jogo.

Por isso mesmo, é preciso entender que o peso pode não ser um entrave, mas uma qualidade, numa jovem jogadora – assim esta tenha boas capacidades motoras e se sinta incentivada a trabalhar para ser melhor. A mesma coisa com a altura – a paciência aconselha-se para uma jogadora que, sendo alta, não cumpra nos escalões mais baixos com tudo aquilo que se espera de uma “boa” jogadora. Finalmente, o feitio. O querer ser competitivo, o ter uma personalidade difícil, o seu complexo, é muitas vezes uma qualidade que, na jogadora do futuro e no futuro da jogadora, podem acabar por ser decisivos para a considerar um caso de sucesso.

É uma equação difícil, sempre com os seus dados em atualização. E só saberemos se estamos certos quando, daqui a vários anos, entendermos onde cada jogadora – mas, sobretudo, cada pessoa saída destas atletas – conseguiu chegar.

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