Luís Cristóvão

Manter o sucesso juvenil no escalão sénior: porque uns conseguem e outros não?

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Um interessante artigo assinado por Augusto Ferro no jornal O Jogo de 1 de abril de 2016 foca a análise da evolução de atletas jovens para o alto rendimento. Como método de análise, o jornalista procura atestar entre os atletas que marcaram presença nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2010, com Portugal a apresentar 19 atletas em dez modalidades diferentes.

Seis anos depois, o balanço é o seguinte:

Registando-se um aproveitamento superior a 50% dos participantes, estamos dentro de um número que a literatura apresenta como assinalável. A verdade é que uma parte significativa dos atletas que alcançam níveis de excelência durante a sua formação falha no acesso ao alto rendimento.

Num estudo orientado por Stephen C. Hollings, do Centro de Investigação em Rendimento Desportivo de Auckland, na Nova Zelândia, foi estudado o caso do atletismo. Entre os atletas envolvidos nesta pesquisa, também cerca de 50 por centro abandonaram a prática da modalidade.

Entre as razões apresentadas por aqueles que se mantiveram na prática e alcançaram resultados de sucesso no alto rendimento estão o foco em objetivos claros e realistas, um planeamento de carreira orientado para esses objetivos, bons resultados logo na passagem para o escalão sénior e a prioridade colocada no desporto em detrimento dos estudos ou da vida familiar.

Nos casos de abandono, as razões apresentadas são mais variadas, incluíndo a dificuldade para lidar com as tensões do aumento de exigência competitiva, a manutenção de diferentes objetivos de vida, a sensação de falta de progresso desportivo, as lesões, a falta de um mentor e de planeamento da sua carreira desportiva.

Se pudéssemos conhecer a fundo as razões e os percursos de todos os atletas envolvidos na representação portuguesa de 2010, com certeza que viríamos a encontrar muitas respostas semelhantes.

Como avaliamos o talento e o sucesso

Penso que a partir deste artigo, voltamos a tocar na questão essencial, que não são os casos concretos de cada atleta nem a falta de apoio para o desporto português (embora essa possa ser uma razão forte para, se compararmos realidades, certas decisões sejam tomadas, como aconteceu com a atleta que alterou a sua nacionalidade desportiva).

Primeiro que tudo é fundamental que se avalie o talento a partir de outras medidas. Os atletas que atingem melhores resultados em escalões de formação conseguem-no por diferentes razões, sendo que, muitas delas, não são nada promissoras para o nível que poderão atingir nos escalões séniores. Desmontar a ideia de que ter vários atletas entre os dez melhores do mundo nas idades entre os 14 e os 18 anos pode ter um seguimento para o alto rendimento será o primeiro passo. Utilizar as ferramentas científicas existentes e disponíveis em várias Universidades portuguesas para avaliar o talento dos nossos atletas será o passo seguinte.

Depois, teremos também que repensar como medimos o sucesso. Ao contar medalhas e sucessos internacionais, não devemos nunca deixar de abordar o contexto do nosso país. Entender quanto custa uma medalha olímpica a Portugal, por comparação com Espanha ou França, por exemplo, seria uma boa medida. Entender que um bom resultado ao nível da formação é um sinal de alegria para os envolvidos mas, muitas vezes, diz muito pouco do potencial que o país pode ter para, no alto rendimento, voltar a repetir o feito. Pensar que o sucesso pode, ainda, ser medido de outras formas – uma das atletas que abandonou a modalidade é indicada como mantendo-se na estrutura técnica da sua equipa -, podendo a experiência desportiva na formação vir a ser essencial para termos melhores treinadores no futuro.

Não pedimos, obviamente, que seja a comunicação social a dar os primeiros passos nesse sentido. Mas sim que, nas estruturas onde se tomas as decisões, não se fique também pelos efeitos dos títulos e das capas dos jornais.

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