Luís Cristóvão

Manual de Instruções

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Escrever um diário pode ser comparável a uma decisão de uma vida. Quando éramos miúdos, havia toda aquela cerimónia da compra do diário, com cadeado, de preferência, e do tempo de preparação até ao dia em que, finalmente, se começava a escrever. Deveria ser pelo final da tarde, depois da escola e das brincadeiras, que finalmente colocávamos a data no cimo da página e puxávamos pela cabeça até que alguma coisa saísse. “Hoje de manhã encontrei o Chico quando cheguei à escola e…” Não quero que se desmotivem com o facto de eu nunca ter escrito diários durante a infância. Mas é um facto.

Para mim, toda essa espera cerimoniosa e carregada de ansiedade revelava-se nas semanas que antecediam as grandes competições de futebol. Meses antes começava-se a fazer a caderneta de cromos, estudando desde logo a cara desses desconhecidos que viriam a ser uns heróis. Era graças à Panini, ou, depois, à Onze Mondial, que ficávamos a saber ainda da existência de alguns clubes que nos haviam escapado ao crivo, como um Sportul Studentesc ou um Naestved. Todos os plantéis eram depois respigados e confirmados nos jornais, até que no dia em que finalmente lá começava o Euro ou o Mundial, estávamos prontos para revelar os nossos dotes enciclopédicos.


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Os nossos dias fazem-nos viver tudo mais de perto. Com facilidade sabemos o que se passa na 3ª Divisão da Áustria ou na Taça do País de Gales, e de certa forma ter-se-á perdido o encanto de ver um jogo das competições europeias, em direto de Budapeste, com aquela imagem escura e granulada, debaixo do encanto de perceber que às três horas da tarde já era de noite na Hungria. Talvez agora sejam raras as crianças que enchem folhas e folhas de papel com a invenção do que o Europeu pode vir a ser, que o vivam continuamente uma e outra vez nos seus jogos de caricas ou de bonequinhos de bolos de aniversário, que se interessem profundamente por adivinhar qual dos guarda-redes suplentes da Albânia, o Hoxha ou o Sheji, seria chamado para a baliza se o Berisha se lesionasse.

Mas para muitos de nós, foi assim que nasceu o mundo. Com diários fechados por cadeados e informação apenas acessível ao mais dedicado dos investigadores. Todo esse tempo ocupado a tentar abrir um fecho do qual se perdeu a chave, deu-nos esta estranha capacidade de super-herói capaz de conectar o que acontece num retângulo relvado e as mais belas histórias do mundo. Se entraram neste post à procura de perceber como se escreve um diário, compreendo a vossa desilusão. É isso que vou tentar demonstrar nos dias que se seguem até ao 11 de julho.

Espero que me acompanhem até lá!

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