Finalizado o Euro 2016, é altura de apresentar a lista dos 23 jogadores que merecem distinção nesta prova. É uma escolha pessoal, baseada no visionamento dos jogos, mas também no imaginar do que poderia ser a necessidade de escolher uma seleção europeia para viajar até a uma competição com seleções de outros continentes. Assenta-se, assim, uma ideia sobre quem são os melhores, ao mesmo tempo que se aponta para uma ideia do que seria um modelo de jogo para este conjunto.
Guarda-redes
Numa prova onde estiveram os grandes nomes das balizas europeias, a escolha de três elementos parece ser sempre muito complicada. No entanto, é inegável que Rui Patrício, o guarda-redes português, merece estar neste grupo, pela sua capacidade de segurar a equipa nos momentos decisivos. À sua imagem, outros dois guarda-redes podem sair da prova com a noção de terem estado sempre à altura das suas obrigações. O francês Hugo Lloris e o italiano Gianluigi Buffon são a imagem do guarda-redes que tem imenso impacto na sua equipa, oferecendo todas as garantias. Escolher um titular seria muito complicado.
Lateral-Direito
Eventualmente a posição mais frágil deste Europeu, com as escolhas a recaírem em dois elementos que foram adaptados à faixa direita da defesa. Joshua Kimmich, da Alemanha, terá sido o elemento mais regular a atuar pelo lado direito, oferecendo sempre soluções aos seus companheiros com bola. Essa regularidade valer-lhe-ia a titularidade, ainda que Alessandro Florenzi, a atuar como lateral numa defesa com três centrais, ofereça a dimensão ofensiva que o lugar, nos nossos dias, pede. Em qualquer situação de jogo mais aberta, Florenzi seria o homem para estar em campo neste corredor.
Lateral-Esquerdo
A grande revelação deste Europeu é o português Raphael Guerreiro, identificado e contratado pelo Borussia Dortmund já durante a prova. O seu acerto defensivo, a imensa qualidade da decisão com bola, a velocidade e resistência a aparecerem nas suas constantes subidas pela faixa e ainda o à-vontade no momento da finalização (para além das bolas paradas que, como mostrou na final, podem vir a ser das suas grandes armas no futuro) fazem dele o titularíssimo nesta posição. Para seu suplente, um jogador que ficou pela fase de grupos, o albanês Elseid Hysaj, também ele um jovem, com características ideias para ser um elemento preponderante pela faixa num onze mais ofensivo.
Defesa-Central
Autênticos gigantes do futebol atual, na sua dimensão dramática, os defesas-centrais estão expostos a uma pressão como nunca antes na história do jogo. Perante isso, Pepe foi imperial na forma de se antecipar e de arrumar qualquer avançado que apareceu na sua área de influência, sendo ainda um jogador com uma boa capacidade para sair com bola (apesar do seu passe ser, muitas vezes, pouco racional). À sua imagem, o italiano Leonardo Bonucci, com as mesmas características e uma capacidade extra de decidir bem, para além de ser um elemento com enorme qualidade para aparecer no contra-ataque. Giorgio Chiellini, pela sua experiência, e Laurent Koscielny, pelo acerto revelado, merecem entrar na convocatória, sendo que no caso do francês devo dizer que parece ter estado, neste Euro, no seu melhor momento de sempre.
Médio-Centro
A posição mágica do futebol tem hoje tanta exigência na sua execução que nos arriscamos a uma de duas coisas: a confundir o médio-centro com uma máquina (pela dimensão física e pela necessidade de estar sempre certo, qual relógio perfeito) ou com um génio (pela forma como a sua inteligência é convocada para todas as situações em que se encontra). Difícil, muito difícil, quem escolher para fazer o balanço destas características. Pelo lado mais defensivo, Grzegorz Krychowiak, jogador polaco, deu sinais de ser quase intransponível, merecendo, sem dúvida alguma a distinção numa posição que, em termos de futuro, me parece pertencer a Paul Pogba. O francês comprovou neste Euro que pode ser o 6 multifacetado que o futebol dos nossos dias exige, sempre que ao seu lado esteja alguém que lhe compreenda a capacidade de subir no terreno para, também perto da área, ser decisivo. Depois, espaço para os jogadores com maior dimensão técnica e oferta de inteligência em termos de conhecimento de jogo. Andrés Iniesta, numa Espanha que não foi capaz de ultrapassar os oitavos-de-final, mas tem ainda no jogador do Barcelona o melhor intérprete de uma ideia de jogo que não morreu. Luka Modric, da Croácia que foi brilhante na fase de grupos, muito pela capacidade deste jogador do Real Madrid, que teve depois dificuldades de encontrar espaço perante um Adrien Silva cão-de-guarda que o empurrou para fora do Euro. Aaron Ramsey, de um País de Gales que precisou sempre dele para encontrar a melhor forma de se colocar no jogo, inteligente e presente no momento ofensivo, capaz de se adaptar a missões mais recuadas quando o jogo e a equipa precisa.
Médio-Avançado
Para mim é quase impossível definir a posição do que é, hoje, o extremo que também é avançado, jogando sobretudo solto nas posições mais adiantadas em relação ao médio-centro. Em alguns casos, jogadores confundem ainda mais este enquadramento (é o caso de Ramsey ou João Mário), mas para bem da definição dos 23, estes são os meus cinco para a missão de trabalhar no confronto direto com as linhas defensivas. Antoine Griezmann, que foi extremo, médio-ofensivo, homem de área. O que é hoje o pequeno jogador do Atlético de Madrid? Sobretudo uma opção em busca de liberdade a toda a largura do terreno de jogo, sendo, a partir daqui, dos elementos mais decisivos que encontrámos no Euro, apesar de não beneficiar do mesmo contexto que tem no seu clube. Também entre os franceses, Dimitry Payet, outra das boas surpresas do Euro, decisivo quando os heróis dos franceses fraquejavam, capaz de se reinventar como um trabalhador no onze de Deschamps conforme lhe pediam as circunstâncias. Gareth Bale, do País de Gales, sempre perseguido pelas defesas contrárias, a conseguir rasgar espaços e a ser fundamental no momento do remate, também com a certeza que qualquer bola parada lhe dá uma oportunidade próxima ao pontapé de grande penalidade. Julian Draxler, pela dimensão de futuro que o seu futebol já deixa adivinhar, símbolo maior de uma superação dentro do quadro do futebol germânico, onde Draxler já é uma certeza maior do que aqueles que se esperavam ser titulares. E, finalmente, Éder, o italiano de origem brasileira que, nesta posição, é um autêntico homem-de-mão do ponta-de-lança, capaz de escavar as trincheiras de onde este vai sair para desferir o tiro fatal ou mesmo entregar-se para ser o primeiro dos defesas do seu conjunto.
Ponta-de-lança
Como manter a dimensão física para ser um homem de área num jogo em que as decisões são tomadas, quase todas, ao nível do chão? E como ser um elemento útil à equipa ao mesmo tempo que oferece as características para lutar com verdadeiros gigantes pelo ar. Dois elementos sobressaem na conjugação destes elementos. O espanhol Álvaro Morata, com qualidade técnica e visão de jogo que poderiam fazer dele um elemento mais recuado no terreno, mas que vive melhor quando tem menos espaço e se aproxima da área adversário. O português Cristiano Ronaldo, de quem se espera o mundo, mas que tem hoje para oferecer o protótipo de jogador raro que veio da faixa para se instalar na área e não permitir um segundo de descanso a qualquer defesa, criando perigo com a bola nos pés, com os saltos em busca do jogo aéreo e com a resistência física que apresente.
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