Luís Cristóvão

Formar? Sim, mas para quê?

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Apesar da palavra “formação” andar na boca de tantos que acompanham o fenómeno desportivo, parece que ainda estamos longe de um momento em que a formação seja entendida em todo o seu alcance. De certa forma, parece-me que muitos daqueles que estão envolvidos na “formação” o fazem sem mergulhar o suficiente na análise da sua função. Formar não é apenas trabalhar com gente jovem, tal como acompanhar o processo de evolução de alguém poderá ter muito pouco de formativo.

É fundamental que, quando se quer trabalhar em formação, se tenha consciência daquilo que desejamos seja o jogo do futuro. Porque, se hoje em dia temos a nosso cargo uma equipa com jogadores de 13 ou 14 anos, quando estes chegarem ao nível sénior, em quatro ou cinco anos, que jogo se irá jogar? A aposta do treinador-formador passa, primeiramente, por imaginar esse jogo do futuro.

De seguida, temos que ter uma profunda perceção daquilo que, dentro do jogo que se joga nos nossos dias, funciona como a proposta mais complexa que conhecemos. É essa proposta mais complexa que devemos ter como base de trabalho. Porque para proporcionarmos ao nosso jovem atleta um quadro de exigência para que este possa evoluir ao nível dos melhores do seu tempo, é nessa complexidade que ele deve ser formado. Assim, a responsabilidade do treinador-formador passa por integrar ensinamentos complexos no jogador do futuro.

É também fundamental que, no processo formativo, os resultados que podemos analisar não são os dos jogos que disputamos, mas do caminho em que o jovem atleta está a ser inserido. Ou seja, mais importante do que adoptarmos um comportamento de segurança naquilo que é a nossa ação em jogo, devemos provocar e ensinar a conviver com o risco, de maneira a que aquilo que é hoje difícil possa tornar-se mais fácil lá à frente. Isso significa que o foco não deve estar no resultado do jogo, mas no resultado da atuação que proporcionamos ao atleta. O treinador-formador realiza balanços sobre a sua atividade no médio e no longo prazo, não no curto.

Imaginar o jogo do futuro, integrar ensinamentos complexos no nosso trabalho e avaliá-lo no médio prazo são, então, elementos fundamentais numa eventual resposta (necessariamente mais completa) à pergunta que dá título a este artigo.

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