Luís Cristóvão

Como tornar o “Soccer” relevante no futebol mundial

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Se o sonho de vários empresários que, ao longo dos anos, desejaram tornar os Estados Unidos a meca do futebol mundial, alguma vez esteve perto de se realizar, a actualidade demonstra que a melhor forma de o fazer será através de pequenos passos. A Major League Soccer, competição que completa vinte e um anos de vida, está cada vez mais sólida e apetecível para quem quer fazer negócio no futebol.

História e Expansão

A criação da MLS foi uma das contrapartidas colocadas em cima da mesa pela FIFA para dar aos Estados Unidos da América a organização do Mundial de futebol em 1994. Assim, cumprindo com o estabelecido em 1996, a Federação local inaugurou uma prova com dez equipas, onde para além das estrelas da seleção nacional, figuravam alguns dos craques americanos do momento, como o mexicano Jorge Campos e o colombiano Carlos Valderrama.

A tentação inicial foi a de estabelecer algumas regras próprias, numa prova onde não existiam empates e os jogos eram decididos com jogadas de um contra um em meio-campo. Tentando atrair um público composto, essencialmente, por adeptos latino-americanos, a utilização de grandes estádios construídos para outras modalidades, como o futebol americano ou o basebol, apresentava como problemas o seu tamanho (com as bancadas vazias a tornarem-se uma realidade constante) e a qualidade do relvado (que impossibilitava um jogo de qualidade).

Os problemas financeiros também foram uma realidade dos primeiros anos, com equipas que foram desactivadas ao fim de poucos anos e uma demora em encontrar estádios específicos para a realização dos jogos. Columbus, no Ohio, foi a primeira cidade a ter, de raiz, um estádio para futebol, inagurado em 1999, mas só três anos depois a Liga começou a crescer, devido ao interesse provocado pela boa prestação da seleção no Mundial 2002.

Hoje em dia, a MLS agrupa vinte e duas equipas dos Estados Unidos e do Canadá, com mais uma a ter estreia marcada para 2018. O seu administrador coloca em vinte e oito o número que pretende atingir no futuro próximo. Com um público conquistado em diferentes franjas da sociedade, com especial relevância para as mulheres, o aumento do número de praticantes entre a juventude e uma grande maioria das equipas com estádios construídos para esta modalidade, o panorama transfigurou-se.

O envolvimento de investidores americanos e estrangeiros, a presença de grandes marcas no patrocínio da prova – Adidas, Audi, Coca-Cola, Continental, Heineken e Tag Heuer são alguns dos sponsors – e os contratos de transmissão televisiva para o mundo inteiro oferecem uma capacidade mediática e empresarial que não tem comparação com o passado.

Controlo orçamental e modelo competitivo

Com a Liga a deter o controlo orçamental das diferentes equipas, a MLS destaca-se pela forma como gere a distribuição salarial nos seus plantéis. Cada equipa pode ter até um máximo de trinta jogadores com contrato, sendo que quatro deles podem ter um salário anual livre.

Tomando como exemplo a equipa dos Chicago Fire, o campeão do mundo Bastian Schweinsteiger tem um contrato anual no valor de 5.400 mil dólares, enquanto o húngaro Nemanja Nikolic, um dos melhores avançados da prova, tem um contrato de 1.700 mil dólares. O brasileiro Juninho (700 mil dólares) e o holandês Johan Kappelhof (530 mil dólares) são outros dois jogadores designados, enquanto titulares habituais como o norte-americano Dax McCarty (400 mil dólares) e o português João Meira (150 mil dólares) têm contratos já estabelecidos dentro dos limites da Liga.

O modelo competitivo é outra das singularidades da MLS no mundo do futebol. Depois de uma temporada de trinta e quatro jornadas, as doze melhores equipas disputam, em eliminatórias, um playoff que definirá o campeão no início de dezembro. Em Portugal, todos os jogos desta fase têm transmissão nos canais Eurosport.

O futuro do futebol nos EUA

Eliminado na fase de apuramento para o Mundial 2018, algo que não acontecia desde 1986, o futebol dos Estados Unidos vive um período de reflexão. De certa forma, todo o investimento feito na formação de jogadores, aumentando a qualidade média do jogador dos Estados Unidos e do Canadá, permitiu também uma maior experiência competitiva a jovens de países da América Central, de países como a Costa Rica, Honduras ou Panamá, todos eles na rota da Rússia.

A saúde da Liga precisa, desta forma, de encontrar um equilíbrio do ponto-de-vista desportivo, o que deverá passar pelo aumento da qualidade dos treinadores. Tendo passado por fases de imigração de técnicos ingleses e alemães, a formação de técnicos nos Estados Unidos só agora começa a dar passos mais consistentes.

A união dos esforços a nível económico, comunicacional e desportivo, através de pequenos passos que nunca terão sido a opção dos “pioneiros” da modalidade nos Estados Unidos, é agora o caminho mais válido para tornar o “soccer” relevante no futebol mundial.

Artigo publicado no Semanário Vida Económica, 27 de Outubro 2017.

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