Luís Cristóvão

Os 23 de Fernando Santos para o Mundial

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Conhecida a lista de convocados para os últimos dois jogos de preparação da seleção portuguesa antes do início do estágio para o Mundial de futebol que se jogará, este ano, na Rússia, podemos analisar quais os 23 nomes mais prováveis e quais as ideias do técnico português. Uma coisa parece certa. Apesar de manter exatamente os mesmos princípios que o levaram a ser campeão europeu, Fernando Santos está longe de escolher de forma unânime.

Escolher 23 nomes para jogar um Mundial de futebol é um exercício de mil possibilidades, seja qual for o país que um treinador representar. Fernando Santos tem-se revelado, ao longo dos anos que leva de Seleção portuguesa, como um conciliador de jogadores, ainda que não propriamente dos jogadores que estão em melhor forma. As suas listas tem privilegiado um grupo que pretende ter muita experiência (fundamental para uma prova curta e decisiva em eliminatórias), acondicionando as muitas possibilidades que a formação de jovens tem possibilitado para renovar a seleção principal.

Após anunciar os 25 nomes que estarão disponíveis para os jogos de preparação frente a Egito e Holanda, Fernando Santos assinalou as ausências dos lesionados Pepe e Danilo, referindo que 70% dos convocados estavam nesta lista. Para a completar, reclamou a lista de nomes chamados em novembro (12 jogadores não estão presentes aqui) para conformar o grupo de 36 elementos (Ricardo Ferreira, lesionado de longa duração, saiu das contas) de onde sairá a lista final.

Porque Fernando Santos chamará estes 23

Faço um exercício de explicação da lista final de Fernando Santos.

Guarda-redes: Dos quatro jogadores chamados entre as duas listas, Rui Patrício, titular, Beto e Anthony Lopes, pela qualidade e temporadas que vão fazendo, são nomes certos na convocatória de Fernando Santos. José Sá, pelo passado nas seleções, seria uma quarta opção, mais forte se fosse titular no FC Porto (já não é). Bruno Varela, titular do SL Benfica, uma possibilidade remota.

Laterais: À esquerda, apesar de quatro nomes, dois parecem realmente mais fortes. Raphael Guerreiro é o titular da equipa, estatuto que não manteve apenas devido a lesões. Mas, recuperando a forma, recuperará o lugar. Tem, esta temporada, um forte concorrente em Fábio Coentrão. Porque, na cabeça de Fernando Santos, o agora lateral do Sporting nunca esteve excluído deste grupo, seja no que toca à qualidade, seja no que toca à experiência. Antunes parece ser uma terceiro opção viável, caso exista algum tipo de lesão, com Kevin Rodrigues a ficar como elemento excluído. Mário Rui, do Nápoles, um nome que nunca chegou a merecer a confiança do selecionador.

À direita, mais dúvidas e muito maior concorrência. Apesar de não ser um favorito dos adeptos e de uma temporada cinzenta no Southampton, Cédric Soares será o mais forte candidato à titularidade no Mundial, porque no modelo de Fernando Santos, com um lateral mais ofensivo à esquerda, espera-se uma opção de maior controlo à direita. Cédric oferece isso, para além de oferecer bom toque de bola no apoio ao meio-campo. João Cancelo é o nome chamado para estes encontros de preparação, beneficiando da titularidade no Inter de Milão, apesar de conturbada. Fernando Santos sempre o preferiu por ser um jogador que oferece o completo contrário de Cédric, um pensamento ofensivo total, a correr toda a faixa. Nélson Semedo, pelas suas qualidades, deveria estar também no lote. Ainda que não ganhando a titularidade no Barcelona, perdeu pontos nesta corrida. Ricardo Pereira, em Portugal, conseguiu fazer-se concorrente à posição, mas perdeu gás com um mês de ausência por lesão entre fevereiro e março. De qualquer maneira, tendo em conta as restantes opções, teve sempre missão bem complicada na possibilidade de ir ao Mundial.

Centrais: A maior dor de cabeça da seleção. O melhor central português é Pepe, que não estando lesionado (ou mesmo estando…), será sempre titular na equipa de Fernando Santos. Nesta convocatória, espanta a presença de Bruno Alves, que fez apenas quatro jogos em 2018, com a camisola do Glasgow Rangers, mas comprova-se que mesmo aos 36 anos, é um elemento chave na comitiva para a Rússia. José Fonte, que recentemente foi transferido para a Superliga Chinesa, depois de meia-época em branco na Premier League, também parece merecer o benefício da dúvida do treinador. Luís Neto parecia estar garantido neste lote, mas a sua ausência na chamada de março levanta dúvidas. O mais provável parece, agora, que o quarto central será chamado entre as opções Rolando, do Marselha, e Rúben Dias, do Benfica. À partida, será um jogador pouco ou nada utilizado no Mundial. Se Rolando garante maior rodagem, Rúben Dias garantiria uma pitada de juventude numa posição onde Edgar Ié, Pedro Mendes ou Paulo Oliveira parecem muito longe de merecer uma chamada.

Médios Defensivos: William Carvalho e Danilo Pereira estarão no Mundial. Não creio que existam muitas dúvidas. Rúben Neves é uma opção de luxo a qualquer um destes dois nomes e, num futuro próximo, poderá mesmo ultrapassá-los como opção para titular. Mas corre atrás, eventualmente à espera de uma abertura de espaço numa posição mais adiantada.

Médios Interiores: João Moutinho e André Gomes estão entre os fiéis de Fernando Santos e, mesmo que o jogador do Barcelona esteja a fazer uma temporada muito longe do necessário para pertencer a este grupo, continua a merecer a confiança. Manuel Fernandes tem sido chamado para ser um concorrente de peso para esta posição, que também pode ser ocupada por Rúben Neves, numa perspetiva mais defensiva, como por Bruno Fernandes e João Mário, dois jogadores que estão lançados para serem parte desta equipa como elementos mais ofensivos do trio ou quarteto do meio-campo. Adrien Silva mereceu a chamada para os jogos de preparação de março, mas perante a enorme concorrência, tem a vida muito dificultada para conseguir bilhete para a Rússia.

Extremos: Bernardo Silva, Ricardo Quaresma, Gonçalo Guedes, Gelson Martins. Difícil argumentar contra qualquer uma destas chamadas. Bernardo Silva transformou-se num dos melhores jogadores do mundo, ao serviço do Manchester City, enquanto Ricardo Quaresma, que durante um período brilhou apenas na Seleção, encontrou espaço vital para ser figura no Besiktas. Gonçalo Guedes, que também pode jogar mais na frente, a fazer dupla com Cristiano Ronaldo, está a fazer a temporada da sua vida no Valencia, enquanto Gelson Martins, pelo equilíbrio que oferece, é um nome relativamente seguro no grupo de Fernando Santos. Bruma, que está a fazer uma grande temporada no RB Leipzig mas nunca foi bem visto na Seleção, onde não há espaço para mais um fantasista, nem a partir do banco, ou Rony Lopes, parecem nomes que acabarão por ficar de fora da corrida. O mesmo se aplicará a Nani, que perdeu espaço para ser extremo e verá a sua passagem pelo Euro 2016 como avançado centro como pouca memória para manter espaço nos 23.

Avançados: Ou a posição de quem fará dupla com Cristiano Ronaldo. O astro do Real Madrid é, hoje, na Seleção, um misto entre segundo avançado e ponta-de-lança, dentro do mesmo jogo. André Silva será o jogador que melhor percebe as funções necessárias na cobertura do espaço onde CR7 não está e, por isso mesmo, deverá manter-se como titular no Mundial. Gonçalo Guedes é outro dos nomes que demonstra todas as condições para ocupar essa posição, em funções ligeiramente diferentes daquelas que ocupa em Valencia, mas mais próximas das que viveu nos últimos meses de Benfica e durante toda a sua formação. Éder, que foi chamado em novembro, mantém esperanças de voltar a ser uma espécie de salvador para contextos de aperto, mas o espaço não alarga nesta equipa. Nani não foi chamado esta temporada. Gonçalo Paciência ou Nélson Oliveira dificilmente entrarão no lote. Com tantos extremos que podem finalizar, poderá não haver espaço para um vigésimo-terceiro jogador fora do contexto do modelo de Fernando Santos.

Alterações a 19 de março: 

Com Rúben Dias e Fábio Coentrão lesionados, foram chamados Luís Neto e Mário Rui para as suas posições. No caso do defesa-central, regresso à normalidade, com o Neto a poder reivindicar este teste para entrar na lista final de Fernando Santos. No caso da lateral-esquerda, Fernando Santos aumenta o leque de opções para cinco, com a chamada de Mário Rui. No que toca aos números, não haverá grande diferença entre o lateral do Nápoles e Antunes, do Getafe, sendo que o napolitano poderá estar a merecer a chamada por jogar numa equipa de um nível superior. Ainda assim, parece difícil furar o grupo, se Guerreiro e Coentrão estiverem bem no final de maio. 

Os 23 para a Rússia

Tendo em conta esta análise, deverão ser estes os 23 jogadores chamados por Fernando Santos para o Mundial de 2018.

Rui Patrício, Beto, A. Lopes, Cédric Soares, João Cancelo, Raphael Guerreiro, Fábio Coentrão, Pepe, Bruno Alves, José Fonte, Rúben Dias, William Carvalho, Danilo Pereira, João Moutinho, André Gomes, Bruno Fernandes, João Mário, Bernardo Silva, Ricardo Quaresma, Gonçalo Guedes, Gelson Martins, Cristiano Ronaldo, André Silva.

Sem surpresas, como Fernando Santos gosta.

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