Recentemente, a Liga Portugal apresentou um relatório intitulado “Plano B – Reflexão sobre as equipas B no ciclo 2012-2017”, focado, essencialmente, nos pontos positivos criados pela passagem das equipas secundárias neste campeonato ao longo de cinco temporadas.
O ponto de maior destaque deste relatório prende-se com o espaço competitivo proporcionado a um grande número de jogadores que vieram a encontrar evolução no seu trajeto. Devemos entender que, à partida, o facto de estarmos a falar de jogadores que passaram por equipas como o Benfica, Sporting, FC Porto, Braga, Vitória de Guimarães ou Marítimo, levará a pensar que é um espaço onde essa evolução é mais acessível. Será natural encontrar na seleção ou nas divisões profissionais jogadores que, antes, passaram no crivo de seleção das equipas com maior capacidade económica no país.
Ainda assim, alguns números são inegáveis. Nove dos 23 campeões europeus em 2016 tiveram passagens pelas equipas B, as seleções jovens de Sub-21, Sub-20 e Sub-19 apostam, maioritariamente, em jogadores que atuam nestas equipas, 21% dos jogadores inscritos na Liga NOS em 2016-17 já tinham jogado em equipas B, com os seis clubes que tiveram equipas B a fazer um aproveitamento diversificado dos jogadores que fizeram este percurso, com destaque para o Vitória de Guimarães.
As equipas B representam ainda 35% do total das transferências internacionais, aumentando ainda, ano após ano, o número de jogadores emprestados com passagem por estes conjuntos. Os jogadores que atuaram em equipas B renderam valores acima dos 370 Milhões de Euros em transferências, sublinhando também a importância, em termos de negócio, desta plataforma de desenvolvimento de jogadores.
A média de idades dos plantéis das equipas situava-se nos 20 anos, em 2016-17, com 66,5% dos jogadores nacionais, outra das análises em que se nota uma evolução positiva, com cerca de 60% jogadores a serem formados localmente, o que acaba por permitir uma base importante para as inscrições nas competições europeias.
Pontos menos positivos deste ciclo
No que toca à valorização do espetáculo, e ao contrário das conclusões realizadas no relatório, não creio que esta tenha cumprido com as expetativas. A Segunda Liga tem uma média de espetadores de 1083 por jogo, com o Vitória de Guimarães a ser o único clube a superar esse número, em 2016-17, com uma média de 1714. O Sporting está no fundo desta tabela, com apenas 274 espetadores em média. Os horários dos jogos das equipas B e a localização dos seus jogos pode ser uma explicação para estes números.
O maior número de jogos transmitidos está ligado ao facto de FC Porto, Benfica e Sporting transmitirem, nos seus próprios canais, todos os jogos em casa das equipas B. Mas, em sentido contrário, com as transmissões dos jogos no canal Sport TV a focar-se, muitas vezes, também nos jogos destes conjuntos, perde-se algum acompanhamento realista da prova – com maior foco nas equipas que disputam a subida – para o deslocar para as equipas B. Neste caso, mais visibilidade para a prova, não assume, a meu ver, mais importância à mesma.
O passo seguinte
Neste momento, ainda não será claro o que irá acontecer com as equipas B no futebol português. O surgimento do Campeonato Nacional de Sub-23, organizado pela Federação Portuguesa de Futebol é um sinal de que haverá uma dispersão de atenção por dois projetos que atuam no mesmo escalão etário, sendo que o facto de Sporting ter visto a sua equipa descer de divisão, levará a que, à partida, teremos um máximo de quatro equipas B na Segunda Liga, o recorde negativo na abertura do novo ciclo.
Os pontos positivos do ciclo das equipas B estão à vista no relatório apresentado, quer na vertente de formação de jogadores e o seu encaminhamento para as equipas principais, seja na valorizações de ativos para negócio. Sendo óbvio que a própria competição da Segunda Liga precisa de uma reflexão maior sobre o seu modelo, a presença das equipas B tem-se revelado importante para os clubes, para os jogadores e apresenta um potencial não suficientemente aproveitado pelos restantes participantes. A mudança de foco de ter uma equipa B para o Campeonato Nacional de Sub-23 parece, para já, excluir parte dos pontos positivos, nada fazendo para melhorar os pontos negativos.
Neste sentido, é importante sublinhar que, a presença das equipas B na Segunda Liga são um foco de importante competitividade para os jogadores em formação e desenvolvimento, expondo-os a rivais com nível bastante próximo daquele que acabarão por encontrar na Primeira Liga. A dimensão de uma Segunda Liga como um escalão de desenvolvimento de jogadores foi aumentada, não só pela presença das equipas B, mas também pela presença nesta divisão de diferentes projetos que têm esse carácter marcado, como uma etapa de passagem dos jogadores para clubes de nível superior. Abandonar este escalão em busca de “títulos” de Sub-23, é um erro crasso para quem o adoptar.
Mas, também aqui, é de sublinhar que mesmo com uma avaliação tão positiva, não houve capacidade da parte dos clubes que compõem a Liga a formulação de uma proposta que fosse aceitável para todas as partes em termos de futuro. No final de um novo ciclo que se inaugura, poderá aquilatar-se das transformações sofridas em consequência deste erro de timing na formulação de decisões fundamentais para o futebol português.
Acede ao relatório da Liga Portugal, aqui.