Luís Cristóvão

A sexta-feira no futebol português

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À sexta-feira, a grande maioria das pessoas termina a sua semana de trabalho e prepara-se para aproveitar o que o fim-de-semana lhe trará. No final da primeira volta, que programas podem esperar as principais equipas da Liga portuguesa?

O Benfica fechou a primeira volta com uma vitória no Estádio de Alvalade, carimbando um selo de sete pontos de distância para o segundo classificado. Foram quatro meses e meio de crescimento pós-título na Luz. A equipa não mudou de face coletiva em relação à época passada, mas demorou até encontrar a face que poderia dar o “toque de Midas” que João Félix forneceu desde o início do ano civil de 2019. Frente ao Sporting, as duas melhores opções disponíveis no plantel mostraram ambas as suas qualidades. Chiquinho na forma como acrescenta o pensamento de um médio em posição mais adiantada, servindo a equipa para a estruturação das ligações entre momentos de jogo. Rafa a qualificar-se como um avançado livre que detém o talento para mexer com o ritmo da partida. 

O restante onze do Benfica apresenta-se hoje pleno na qualidade das opções que detém. Para as diferentes posições, o plantel responde em consonância com os desejos de um treinador que espera dos seus jogadores o principal contributo para a formulação de uma ideia de jogo. O Benfica fortalece-se na forma como os seus principais jogadores são, hoje, elementos que aportam identidade. Rúben Dias na liderança, contribuindo com voz que se eleva acima das fragilidades nas abordagens de alguns lances, Pizzi na regularidade com que decide, independentemente das sub-missões que lhe são aportadas para cada jogo (transformando-se num elemento que rende, independentemente da posição), Vlachodimos na segurança crescente que aporta à equipa. A partir desta base, o Benfica comprova superioridade, num território onde, aos seus concorrentes, são colocadas exigências que demoram a comprovar ter meios para corresponder.

O que fazer com esta espada?

A derrota frente ao SC Braga deixou Sérgio Conceição pressionado. Não está em causa a valia do seu grupo de jogadores, nem a capacidade do técnico para tentar montar uma equipa que comunique com uma ideia para o jogo. Falta, no conjunto do FC Porto, a tal base de segurança que parece elevar o Benfica na luta pelo título. Contrariado pelo sistema defensivo dos bracarenses, o conjunto do Dragão sofreu para encontrar caminho para o golo (ao mesmo tempo que desperdiçou dois penáltis que lhe poderiam ter dado outro fôlego). A evolução do onze azul e branco tem apontado, exatamente, para uma identidade que a deixa em cima do fio da navalha. Uma equipa cada vez mais entroncada na dimensão física do jogo, tentando abafar o adversário, mas sem a capacidade de leitura que lhe permita causar problemas para lá do espaço onde a bola está. Essa parece ser a maior fragilidade dos portistas. Forte na bola, fraca na maneira como se desdobra a partir daí. 

O Sporting está a 19 pontos do primeiro lugar e, obviamente, a sua corrida não é hoje a do título, demonstrando-se até difícil que possa vir a ser a da Liga dos Campeões. Para o Sporting, a questão da identidade continua a colocar-se de forma premente. Mas onde Marcel Keizer fez um caminho de adaptação de uma ideia inicial a uma conjugação mais precária com as visíveis limitações dos jogadores à sua disposição, Jorge Silas não conseguiu fazer diferente. Os caminhos são, em tudo, idênticos. Também por isso, para lá de uma Liga onde o objetivo, agora, é cumprir os objetivos mínimos (qualquer posição para lá do terceiro lugar teriam impacto desconhecido no day after leonino), a Taça da Liga desta semana revela-se fundamental. O treinador holandês, na época passada, encontrou nas Taças um balão de oxigénio para sobreviver no comando dos Leões. Perdida a Taça de Portugal, Jorge Silas terá em Braga um teste ao nível da sua realidade. 

Braga e os outros

É aqui que o SC Braga de Rúben Amorim também explora a sua possibilidade de brilhar. A vitória no Dragão demonstrou que uma visão mais rebelde do posicionamento existencial dos bracarenses lhes pode oferecer o caminho que procuram há algumas temporadas. António Salvador e a sua equipa mantém a ambição de poder alcançar títulos e aproximar-se ainda mais, em termos desportivos, dos três grandes do futebol português. Em termos de continuidade, essa está conquistada pelo poderio financeiro e respetivo mercado assegurado pelo clube. O importante, agora, é ser capaz de demonstrar essa aproximação também nos confrontos ombro-a-ombro. E foi um Braga destemido aquele que conseguiu voltar a vencer o FC Porto. Uma história que vários outros clubes na primeira metade da Liga continuam a seguir. Para Vitória de Guimarães, Rio Ave, Famalicão, o poderio financeiro dos bracarenses parece ainda distante. Mas disputar-lhes a capacidade desportiva na forma de se apresentar o jogo, como vão provando Ivo Vieira, Carlos Carvalhal ou João Pedro Sousa, é possível. Rúben Amorim quer o mesmo, mas a olhar para o topo. 

Dados estatísticos dos dois jogos da jornada

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