Em todas as áreas profissionais o feedback é uma garantia de melhoria de performance. Mas porque é que a análise e o aconselhamento sobre o trabalho que fazemos parece, tantas vezes, um monstro ao qual não nos queremos chegar?
Treinadores que anunciam ao mundo que não têm justificações a dar sobre as suas opções. Diretores que analisam resultados mas ignoram processos. Chefes que decidem com base na reação emocional ao último acontecimento. Tantas e tantas vezes o feedback parece ausente da base diário de trabalho que é fundamental ter para encontrarmos forma de atingir o nosso máximo potencial e apresentarmos um melhor rendimento.
Feedback num contexto individualista
No trabalho de comentador desportivo, tantas vezes este processo de feedack é ferido pelas circunstâncias da profissão. Com a generalidade dos comentadores a trabalharem como freelancers, a gestão da qualidade do trabalho vai-se fazendo através dos pedidos de novos trabalhos. Quando nos convidam para um programa, quando nos chamam para fazer mais um jogo, quando prolongam o interesse para uma nova temporada.
No entanto, o rendimento profissional não se baseia apenas no interesse que gera. Podemos ter a capacidade de manter uma posição durante muitos anos mesmo estando longe de atingir o nosso máximo potencial. E aí o feedback é fundamental, para se perceber como é que a nossa evolução tenderá a encontrar os objetivos de quem nos contrata.
Uma solução para escaparmos a ausência de feedback passa por criar as condições para o termos dentro de um grupo restrito de colegas de trabalho (o que nem sempre é fácil, numa profissão que tende para o individualismo e para a competitividade). Mas é uma possibilidade se soubermos ouvir quem nos chama a atenção para os pormenores que podemos melhorar.
Exemplo Mourinho
Durante anos habituámo-nos a um José Mourinho idolatrado por quem com ele trabalhava no balneário e odiado por quem o conhecia à distância das conferências de imprensa. O técnico português é alguém que soube manejar muitas vezes a seu favor essa circunstância de gerar impacto através da mensagem externa, gerindo de forma bastante diferente a mensagem interna.
O vídeo partilhado ontem da série “All or Nothing” disponível no Amazon Prime mostra-nos o Mourinho do balneário, numa conversa franca com Dele Alli. Feedback puro. Demonstrando ao jogador de forma clara o ponto onde este se deve focar para melhorar a sua presença na equipa. Puxando do impacto positivo e sublinhando o que de negativo encontra. Motivando e responsabilizando para a mudança. Um exemplo óbvio do que deveria ser o nosso dia-a-dia profissional. Precisamos de mais Mourinhos entre nós.