Luís Cristóvão

O Bairro Alto fala francês

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Chovia em Paris e estava um calor de morrer em Lisboa. As ruas do centro da capital cheio de turistas, a caminho do melhor bar para ver o França-Islândia. Na Rua da Atalaia, 104, a claque estava escolhida. “Allez les Bleus” ouvia-se a metros de distância, a casa pequena a rebentar pelas costuras. Estava escolhido, era por ali que íamos ver o jogo.

Não foi preciso muito para que Giroud marcasse o primeiro golo. Estava ultrapassada a desconfiança dos islandeses – “où sont-ils les islandais?”, cantava-se – e tudo parecia encaminhar-se para o destino certo. Ao vinte minutos Pogba voa sobre os centrais  e tudo parecia entregue. Ainda antes do intervalo, Payet e Griezmann aumentavam a quantia para quatro golos de vantagem e a conversa já se centrava em quinta-feira.

Sim, vem aí a Alemanha. Mas antes, intervalo, descemos uns metros pela rua para comer um kebab. Continua calor na rua, agora com ainda mais turistas a passar para cima e para baixo. Os franceses do 104 são, quase todos, moradores de Lisboa, habituados às andanças da capital. Um jogo dos Bleus é, ainda assim, uma oportunidade para transformar um bar da capital nas bancadas do Stade de France. Sem ameaças.

No regresso ao jogo, a Islândia marca um golo e há um alemão no bar. Quem tem medo do lobo mau, ou melhor, islandês? Ninguém, até porque Giroud foi lesto a aumentar a vantagem, de novo, antes de sair para dar lugar a Gignac – “un Big Mac, pour Gignac”, grita-se, ainda sugiro que, atuando no México, o homem prefira um taco, mas já é tarde, os cânticos agora dividem-se entre a seleção francesa e uma morena que entra, estes franceses precisam de lições de cantigas brejeiras, mas deixa-os estar.

Bjarnasson ainda fez o 5-2, nem um susto, lá fora começa a chegar gente para jantar no tailandês e, deste lado da rua, canta-se para a fotografia. O Bairro Alto fala francês, quarta-feira apoia-se Portugal e quinta-feira a França, ainda que todos tenham algum receio de um Portugal – França na final. Afinal, será mais difícil escolher e os portugueses não gostam dos franceses, por causa da bola.

Estejam descansados. Por mim, agora, era como um torneio de futebol de salão em pleno verão, todos contra todos, jogos todos os dias, e domingo logo se fazia uma final. Com bancadas no Bairro Alto, está claro. 104, Rua da Atalaia.

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