Luís Cristóvão

Passar a pasta

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Início de temporada e muitos atletas e equipas acabam por mudar de treinador. Pessoalmente, estamos perante um dos momentos decisivos da época na gestão dos grupos e dos jovens que teremos a trabalhar connosco na equipa. Porque a forma como se “passa a pasta”, entendendo o que nos chega às mãos para trabalhar, poderá levar-nos a ultrapassar uma série de etapas que o jogador, ou a equipa, já viveram com o anterior treinador.

Olhemos primeiro para o que são os atributos técnicos e táticos da modalidade. Quando se recebe uma equipa, é fundamental entender o que esta tinha como base do seu jogo, de forma a perceber como evoluir a partir daí, seja para reforçar o caminho criado pelo treinador anterior, seja para inverter a marcha em direção a uma nova concepção de jogo. Se conhecermos o ponto de partida dos atletas, teremos a vida facilitada para organizar o processo de treino em direção ao objetivo que nos impusemos. Individualmente, é também importante ter alguma noção das capacidades de cada atleta, de maneira a podermos encontrar o nível de exigência ideal para o início dos treinos. É fundamental, neste ponto, entender sobretudo aquilo que o atleta ainda não demonstra no seu jogo, mas que no processo já deixou a entender, por isso ser tão importante termos a opinião do treinador anterior. (Acontece muitas vezes que, estando no mesmo clube, recebemos um atleta que já vimos jogar várias vezes e sobre quem, pela observação, temos já algumas ideias. Isto não faz com que seja desnecessário conversar na mesma com aqueles que, de forma mais direta, têm trabalhado com ele nos últimos meses).

Mas o fundamental parece-me ser o lado pessoal dos atletas. É nesse campo que se conseguem maiores ganhos e também se pode ter mais influência sobre a capacidade de tirarmos o melhor de cada jogador. Entender bem o seu contexto familiar, a sua personalidade, a sua forma de entender treinos e jogos, bem como ter algum feedback sobre as experiências da última época, transformam o novo treinador numa pessoa com muito mais controlo sobre os atletas e o grupo. Algumas vezes, os treinadores parecem preferir “dourar a pílula”, ora passando apenas os pontos positivos, ora não querendo saber dos pontos negativos de determinado atleta, para não se deixar influenciar negativamente pela informação. No entanto, conhecer aquelas que poderão ser as fragilidades ou linhas vermelhas de um atleta ou de uma equipa, é também conseguir evitar, à partida, desentendimentos fúteis e, ao longo do caminho, perceber como o desafiar a ultrapassá-los, para o seu crescimento pessoal e para a evolução da equipa.

Não receiem, por isso, treinadores, a perguntar, a querer saber, a alimentar a vossa curiosidade sobre os jogadores e as equipas que chegam às vossas mãos. Bem como, treinadores que estão na posição contrária, lembrem-se que ao ajudar hoje, estão a criar as condições para serem ajudados amanhã.

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