Há uma coisa para a qual nenhum curso, formação ou clinic de treinadores te prepara. Para o facto dos teus jogadores não terem o mesmo nível de paixão pela modalidade que tu tens. Se é justo dizer que pode haver exceções a este exemplo entre os treinadores, a verdade é que aqueles que resistem na função só podem mesmo ter uma enorme paixão pela modalidade ou pelo treino, já que não existe uma recompensa extra para o grau de dedicação que é necessário.
Mas, para jogar, a história é bem diferente. Conhecem-se casos de atletas profissionais que se pronunciaram publicamente sobre a falta de gosto por aquilo que fazem, apenas continuando na prática pelo dinheiro/ exposição pública/ pressão ou necessidade familiar para o fazerem. Se formos descendo na escala, é normal que existam muitos mais casos nas diferentes equipas. Quem joga porque tem na equipa o seu grupo de amigos, quem encontra em determinada modalidade, por horário ou conveniência de lugar, o espaço para a sua prática desportiva, ou até casos em que estão numa equipa por uma decisão de outrem.
Geralmente, um treinador não está preparado para este facto. Não está porque sempre se habituou a ver a sua prática como um ato de paixão (de uma forma geral, os treinadores são aqueles que, desde tenra idade, detinham um interesse maior pela modalidade), porque continua a depender dessa paixão para se auto-justificar perante o número de horas por dia, por semana, que dedica à preparação do treino, à sua realização, à tomada de decisões que importam ao funcionamento da equipa.
Perante os seus jogadores mais “desinteressados”, aquilo que o treinador não deve fazer é reagir como quem é traído na sua paixão. Mesmo que surpreendido, o treinador tem sempre a obrigatoriedade de considerar como justa as opções e opiniões dos seus jogadores. Da mesma forma que há que compreender que nem toda a gente que está na tua equipa vai ficar ligado à modalidade para sempre (será que não te sobram dedos para indicar quantas pessoas jogaram contigo e que hoje estão distanciadas da mesma?).
Um bom treinador, aceita as opções dos seus jogadores, fazendo-lhes entender que essas opções têm no entanto implicações naquilo que é a sua presença no treino, no jogo, em suma, na equipa. As boas equipas não têm elementos que vão e vêm ao sabor dos seus estados de espírito. As boas equipas têm jogadores que não duvidam a responder com paixão quando lhes é colocada a pergunta, “e tu, jogas porquê?”