Luís Cristóvão

O jogo, infinito de possibilidades

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O futebol não é uma sucessão de jogadas, mas uma sucessão de situações complexas. Messi leva a bola e está em determinadas condições porque aconteceu algo, anteriormente; e enquanto ele tem a bola, está a acontecer outro algo que o possibilita.

Paco Seirul-lo

Aprendemos a olhar o jogo focados na bola, mas o jogo não acontece nela, nem no jogador que a toca. A singularidade de controlar uma das ferramentas do jogo com o pé leva a um permanente descontrolo sobre a consequência, abrindo espaço para o infinito de possibilidades que nascem, mais do que de cada situação, de cada toque.

A dinâmica de evolução do jogo sempre foi exercida na tensão entre esta abertura de pensamento contra o encerramento da sua verdade num território predefinido. Por isso mesmo, apesar de se entender as vantagens do trabalho da tomada de decisão, a execução da teoria se mantém problemática, exercendo-se na coação mais do que na libertação.

Se quem joga o jogo são os jogadores é uma frase tantas vezes repetida, atendamos ao plural utilizado. Estamos, no fundo, a apontar para o coletivo, porque cada situação nasce sempre de uma seleção espacial onde nenhum jogador está sozinho. A decisão de um é sempre consequência da ação de outros (seja companheiro ou adversário).

Por isso mesmo se discute se a essência deste jogo acontece na sua totalidade (o 11v11) ou se devemos olhar a sucessão de movimentações e ações como elementos isolados de vantagens e desvantagens. Sou levado a entender o jogo como o cruzamento dessas duas ideias. Se existe uma situação de vantagem num determinado espaço do campo, essa situação depende sempre do que aconteceu antes e está a impactar no que acontecerá depois.

Ou seja, mais do 11×11 possibilidades, cada uma das unidades e seus possíveis agrupamentos adicionam hipóteses que nos empurram para o infinito. Paco Seirul-lo pensa-o numa perspetiva quântica, como um “espaço de fase”. Define-o assim:

Tudo isto num décimo de segundo. Mutável no momento seguinte. A obrigar-nos a montar novos quadros mentais para analisarmos o que acontece no jogo.

A forma como aprendemos o jogo está hoje muito distante da forma como o jogo nos obriga a pensar, logo, se somos responsáveis para com as ideias que defendemos, a forma como ensinamos o jogo deverá também sofrer as devidas alterações. Executar a teoria transforma-se, então, num problema filosófico.

Estaremos preparados?

Nota: As afirmações e definições de Paco Seirul-lo foram retiradas do livro de Martí Perarnau – Pep Guardiola, La Metamorfosis (tradução do autor).

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