A bola da Liga dos Campeões 2017/18 começa a rolar dentro de pouco mais de uma hora em Yerevan, capital da Arménia, onde o Alashkert recebe o Santa Coloma, campeão de Andorra. A distância entre esta cidade e Kiev, onde se disputará a final da competição, é de pouco mais de 2100 quilómetros. No entanto, entre este jogo e o que marcará a decisão do novo campeão europeu não podem existir mais diferenças. É nesta longa fronteira que vive a incerteza do futebol europeu.
A evolução das competições transportou o interesse comercial para o centro das decisões e transplantou-o para o lugar de coração dos clubes de futebol profissional. As opções são, hoje, tomadas a favor do fluxo do dinheiro e não a favor do projecto desportivo que um clube ou federação possam ter. Se a música que tocará no início da partida é a mesma, as ambições são muito diferentes. No dia de hoje, jogadores na sua maioria amadores experimentam o gozo de actuar na competição dos meninos ricos. Daqui a dez meses, os prémios de milhões estarão no topo das preocupações, marcados nos corpos de homens-máquinas mantidos para nos divertir.
Esta fronteira tem, no entanto, o dom de se multiplicar para dentro das fronteiras de cada país. Olhando para alguns dos humildes participantes nas eliminatórias iniciais da Liga dos Campeões nem sempre entendemos como a presença nesta prova os transforma em pequenos mutantes dentro das respectivas realidades. Atingir a fase de grupos acaba por ser assim o objectivo essencial para transformar equipas de países periféricos em dominadores das suas Ligas.
Já não há romantismo na competição europeia. O corpo de clubes é uma constante de centros e periferias em constante tensão, até à eventual exaustão de as próprias ligas começarem a competir com a competição europeia. isso acontece, por exemplo, com a Premier League, onde a generalidade dos seus clubes tem poderio financeiro para competir até com equipas de países semi-periféricos que ainda atingem os oitavos-de-final.
Não se pode ir a pé de Yerevan a Kiev, como não se pode fazer esse caminho por entre as diferentes realidades da Liga dos Campeões. A autofagia criada pela lógica de competir-para-receber cria uma distopia sobre o que é, hoje em dia, competição, desporto, mediatismo, interesse, bancada e sofá. Com o adepto (ainda) disposto a pagar mais para que o seu clube receba mais, sem perceber que o fluxo do dinheiro, como em qualquer sistema capitalista, alimenta o topo (e a ilusão do mesmo a diferentes níveis) para destruir, vagarosamente, qualquer possibilidade de um retorno a um sistema mais justo.