Luís Cristóvão

Flamengo sem resposta para problema em equação

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Um Maracanã com mais de 40 mil pessoas para ver o jogo de despedida de Júlio César que também é um jogo de campeonato. Esta é apenas uma das estranhezas que o gigante Flamengo enfrenta neste momento.

Quem aterrasse no Rio de Janeiro e se dirigisse para o Maracanã, por certo não estranharia o cenário. As bancadas praticamente cheias, plenas com provas de amor e respeito por uma das figuras da história do clube, Júlio César, que regressava à titularidade para o jogo da 2ª jornada do Brasileirão. No entanto, este não era um regresso promissor de novos feitos, mas sim a partida de despedida do guarda-redes de 38 anos, lançado nesta equipa há cerca de 20 épocas atrás, e que com as camisolas do Inter de Milão, do QPR, dos Toronto FC, do Benfica e da seleção brasileira, somou títulos e reconhecimentos ao longo da carreira.

A ideia de este ser o seu jogo de despedida fica ainda mais estranha depois de termos visto a exibição de Júlio César, muito seguro na baliza, autor de cinco defesas, algumas delas importantes para manter a vitória no lado da equipa flamenguista. O físico do guarda-redes, no entanto, não aguenta mais. E não vai esperar sequer pelo final da temporada para passar a pasta a Diego Alves e César, os verdadeiros nomes na disputa da titularidade dos rubro-negros.

O provisório que improvisa

Os problemas do Flamengo não começaram nesta semana. Como lista Rodrigo Coutinho, no seu artigo no Yahoo! Esportes, a equipa teve já 12 treinadores em cinco anos e três meses de mandato do presidente Eduardo Bandeira de Mello. Reinaldo Rueda saiu para liderar a seleção do Chile e a direção decidiu transformar Paulo César Carpegiani, que chegara para diretor-técnico, no treinador da equipa para o Carioca. Uma decisão emocional que promoveu a treinador alguém que somou um grande título com a equipa em 1981!

Não se pode dizer que as coisas tenham corrido mal durante o Carioca, mas o Flamengo não foi campeão. E não ser campeão é, mesmo numa equipa em desenvolvimento, sempre visto como um problema dramático.

Mas não tão dramático quanto começar o Brasileirão 2018 com um treinador interino. Maurício Barbieiri poderá vir a ser um grande treinador, como os seus trabalhos anteriores no Audax Rio e Red Bull Brasil prenunciam. Mas a sua primeira grande oportunidade apareceu no contexto mais complexo. Um Flamengo sem rumo, que vai improvisando consoante as tendências do momento, que está em competição no Brasileirão e na Libertadores com um nível de exigência que a equipa, para já, não consegue alcançar.

Barbieiri transmite, no seu discurso, parte dessa insegurança. Não esteve presente nas provas do casting e ganhou um papel ao qual não se adapta. Depois de empates com o Vitória e com o Independiente Santa Fé, a primeira vitória surgiu em casa, neste Maracanã cheio, sobre um América MG que não foi capaz de dar sinais de luta até estar a perder por 2-0. Terá ainda oportunidade de fazer, pelo menos, mais um jogo, de novo frente aos colombianos, na Libertadores. Mas o interino não é solução.

O jogo salvo pelos jogadores

Uma das decisões de Maurício Barbieiri para o jogo deste fim-de-semana foi a não inclusão de Diego no onze, resguardando-o para a partida da Libertadores. Mas é, exatamente, nessa ausência que se abre espaço para um dos jogadores que, nesta fase, vai sobressaindo como parte da solução. Lucas Paquetá, aos 20 anos, confirma todo o potencial que já prometia na época passada. Empurrado para a faixa quando Diego está em campo, Paquetá brilha no corredor central, ou com espaço nessa zona do terreno, aparecendo muitas vezes a servir os seus companheiros no último terço.

Outro jogador que faz a diferença é o ainda adolescente Vinícius Júnior. Extremo por natureza, demonstra já características que pouco condizem com a sua idade. Quando a bola chega aos seus pés, as bancadas entusiasmam-se e o potencial de acontecimentos espetaculares sobe. No seu entendimento com Lucas Paquetá sobressai a forma como o jogo do Flamengo pode ser salvo. Lucas surge muitas vezes em terrenos mais recuados, explorando a velocidade e a finta do seu companheiro. A completar o triângulo, o finalizador Henrique Dourado que, nesta partida, abriu o marcador a passe de Vinícius Júnior e bisou na concretização de penálti cometido sobre si.

Há muito mais talento neste plantel que, de momento, ainda anda à procura de um rumo para se definir no contexto da presente temporada. O primeiro passo seria a decisão sobre o seu técnico, assente, sobretudo, em eixos identificáveis dentro daquilo que são os jogadores que são aposta para a construção do plantel, a segurança para se desenvolver o trabalho ao longo de um ano, a possibilidade de o fazer sem a pressão de ter que ganhar já. Olhando para a concorrência que encontra, o Flamengo é forte, mas não é o melhor.

Quando tiver uma direção, um treinador e a certeza dos jogadores que são as peças centrais de toda esta máquina, poderá cumprir com o destino de ser o gigante Flamengo que promete. Com o Maracanã de casa cheia e os jogos de campeonato a servirem para ser ganhos, não para festas de despedida.

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