O futebol e o discurso – não é propriamente um tema de agora. A forma de falar do jogo e das suas incidências sempre teve um enorme peso no entendimento do mesmo.
Historicamente temos muitos exemplos de treinadores que usavam o discurso para mexer com os acontecimentos do jogo. Quase sempre, antes do jogo começar. Guttman, Pedroto, a gerar uma escola nos anos 70/80 que oferecia pérolas semanais aos jornais.
A esse discurso estava, quase sempre, associada uma prática, uma estratégia. Os efeitos discursivos criados pretendiam atuar sobre o que acontecia em campo, ligavam-se às opções técnicas, evoluíam com eles. Muito sucesso no futebol português foi construído assim.
José Mourinho é um exemplo quase perfeito da utilização do discurso, com uma prática conforme em termos de acontecimentos do jogo. Como já disse muitas vezes, a síntese perfeita do treinador na história do futebol português.
No presente, a presença e o entendimento do discurso modificaram-se um pouco. Já não se lê o discurso dos treinadores como um elemento do jogo, mas sim como um espelho das suas ideias. E, aparentemente, só as ideias contam.
Ora, nesse caminho, perde-se muito daquilo que acontece, efetivamente, no jogo. Antes sequer de qualquer prática, já se qualificam treinadores pelas “ideias” que defendem. E aí começamos a falhar no nosso trabalho de análise.
De que me vale alguém cheio de “boas intenções” se, depois, no momento de revelar o seu carácter, falha consistentemente? Quando não há prática que o substancie, vale o ditado popular: “de boas intenções está o inferno cheio”.
Pode ser que nos falte tempo para olhar melhor para o jogo perante a quantidade de futebol a que temos hoje acesso. Mas não nos ficarmos pelas “ideias” e olharmos mais para aquilo que o jogo nos oferece é essencial.
Aqui ficam expressos os meus desejos para esta temporada que está a começar.