Luís Cristóvão

O caminho improvável de Bruno Fernandes

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Confirmada a sua saída para o Manchester United, Bruno Fernandes encerra a sua “segunda” passagem pelo futebol português. O caminho improvável do internacional português tornou-o, aos 25 anos, um satélite fora da órbita habitual da Liga NOS. Em Inglaterra terá oportunidade para resgatar um espaço que a forma como joga diz que é seu.

Bruno Fernandes tinha o sonho de atuar na Premier League e irá cumpri-lo esta temporada com a camisola do Manchester United. O miúdo da Maia, que nunca virou a cara à luta desde muito jovem, volta a bater as probabilidades, num caminho bastante improvável, até ao Teatro dos Sonhos.

Boavistão sem saída

Na formação do Boavista, Bruno Fernandes começou cedo a dar nas vistas, ainda que isso não lhe tenha permitido uma chamada às seleções nacionais de formação. A aproximação à idade sénior no clube do Bessa fê~lo sentir que estava numa rua sem saída. A equipa principal andava pelos terrenos da 2ª Divisão B, ainda sem data marcada para regressar à Liga, e a proposta que chegava de Itália parecia ser uma promessa de caminho profissional.

Aterrou no Novara, da Série B italiana, onde rapidamente se conseguiu afirmar na equipa principal, apesar de também ter atuado no conjunto secundário. Se olharmos para as trajetórias de jovens jogadores portugueses que procuram saltar para o panorama europeu dentro do mesmo escalão etário que Bruno Fernandes, percebemos que muitos destes casos acabam por redundar em falhanços. Mas Bruno Fernandes algo tinha de especial e ficaria no segundo escalão apenas uma época.

O menino na Série A

A Udinese não demorou a perceber que havia preciosidade naquele jovem português, que entretanto entrara também nos radares da Federação portuguesa, disputando, no final dessa primeira temporada em Udine, o Torneio de Toulon. A chegada à Série A cedo comprovou que Fernandes estava preparado para desafios mais exigentes, mantendo-se no clube durante três temporadas e acabando por sair para a Sampdória onde viria a jogar em 2016/17.

A passagem para Génova acabou por resfriar o entusiasmo com a progressão de Bruno Fernandes. Num plantel com maior concorrência e a fixação do jovem português em espaços onde acabou por não render da mesma forma, tornaram-no um alvo apetecível – ainda que muitos passassem a questionar a sua valia para uma Liga de Top 5 tendo em conta esta temporada. A época não fechou sem uma passagem pelo Europeu de Sub-21 onde, com a camisola da seleção nacional, continuava a alimentar a curiosidade. Seguir-se-ia um passo atrás, para dar dois em frente.

Portugal, voltei!

Jorge Jesus procurava, no Sporting, alguém que pudesse assumir um espaço de criatividade e desequilíbrio a partir de zonas mais recuadas e terá imaginado que Bruno Fernandes conjugava as características de jogo com a personalidade que poderia marcar a diferença na equipa. Não se enganou. Desde o primeiro jogo de preparação em que foi chamado a campo ficou bem claro que o Sporting, a partir dali, seria Bruno Fernandes e mais dez, algo que acabou por se agravar profundamente com a baixa de valor global do grupo de jogadores do conjunto de Alvalade.

Bruno Fernandes foi, nestes dois anos e meio, o jogador mais decisivo numa equipa da Liga Portuguesa, estando no top dos melhores jogadores da competição e afigurando-se como uma peça absolutamente essencial dos títulos conquistados e no evitar de uma quebra maior do Sporting no campeonato. Pelo caminho, afirmou-se também na seleção nacional, onde conquistou a Liga das Nações, demonstrando-se um jogador cujo perfil o colocava já como demasiado para a realidade da nossa Liga. 

O miúdo da Maia voltava a quebrar a lei das probabilidades, conseguindo, depois do regresso a Portugal, sair pela porta grande para uma Liga de Top 5. Em Manchester voltará a encontrar uma equipa que vive um período de quebra, sem grandes ideias ou modelo definido. A sua experiência diz-lhe que esse tipo de ambientes precisam de um líder capaz de operar a mudança. Será esse o seu desafio. Voltar a contrariar o que esperam dele. Para sair por cima. 

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