Este sábado é dia de clássico na Liga NOS, com FC Porto e SL Benfica a olharem para esta partida como um momento definidor da temporada. No entanto, passará mais pela forma como cada treinador tem correspondido às dúvidas lançadas pela competição e pelas suas equipas, a resposta para quem será o campeão português em 2020.
Benfica à procura de um eixo
Com sete pontos de vantagem sobre os seus rivais e com uma capacidade de finalização apurada, o Benfica tem conseguido ultrapassar uma temporada em que a formulação do onze tem sido alvo de dúvidas. Se na temporada passada Bruno Lage havia encontrado em João Félix o eixo da transformação tática da equipa, na presente época a solução individual tardou em definir-se. Vai valendo, para o caso, a grande capacidade Pizzi, aliado a um Carlos Vinícius que se tem revelado um autêntico matador. Para além disso, na baliza, Vlachodimos é, no presente, a garantia de uma superioridade que vai sendo capaz de elevar o Benfica acima de toda a concorrência.
A primeira dúvida de formulação do onze começou com a chegada de Raúl de Tomás e a ideia de Bruno Lage “jogar com dois avançados, que alternassem posicionamento”. Apesar dessa explicação do treinador encarnado, na prática do jogo, esse objetivo nunca foi evidente. Seferovic manteve-se sempre como referência de ataque e o espanhol acabou lançado para um espaço onde, claramente, não consegue definir como o fazia (e volta, agora, a fazer) na Liga Espanhola. Chiquinho, num primeiro instante, e Rafa, agora regressado de lesão, ajudaram a desfazer essa questão, encontrando Bruno Lage, no seu plantel, resposta individual para um problema que era coletivo.
A segunda dúvida de formulação no onze tem estado na posição 6. Na época passada, Florentino foi titular nos derradeiros sete encontros (depois de já ter sido testado em duas oportunidades anteriores), numa fase em que o Benfica garantira a vantagem na classificação sobre o FC Porto. A sua capacidade de equilíbrio no conjunto encarnado foi uma característica vital para a confirmação do título, sendo o jogador que maior acerto revela, entre os médios-centro utilizados pelo Benfica, na eficácia dos passes verticais e no número de ações defensivas.
Gabriel, solução de risco
O Benfica precisava, no entanto, de uma solução que lhe permitisse maior agressividade ofensiva, sendo que deslocou Gabriel para a posição 6, com o brasileiro a ser o médio com superior distância vertical média e maior rácio de passes verticais. A solução Gabriel (ainda para mais associada a Taarabt) é uma solução de risco, que comporta consequências ao nível do comportamento coletivo (que continua a revelar dificuldades). No caso do último jogo frente ao FC Famalicão, a contar para a Taça de Portugal, a exibição do brasileiro foi alvo de leituras bem díspares.
Vê o vídeo dos passes falhados por Gabriel no jogo frente ao FC Famalicão.
Estatisticamente, a goalpoint.pt considerou-o o melhor em campo, o que não impediu que, no estádio, muitos adeptos tivessem ficado insatisfeitos com o “elevado número de passes falhados”. Observando, no entanto, esses passes, através de um vídeo da InStat, percebe-se que a grande maioria deles (5 em 7) foram-no na procura da verticalidade, para explorar o espaço que se abria nas faixas laterais da defesa famalicense. Uma opção de risco, estratégica, que na maior parte dos casos poderá dar ao Benfica criação de oportunidades (um dos passes falhados acabou por redundar num remate perigo de Pizzi na área).
A chegada de Weigl vem, deste modo, tentar encontrar o melhor dos dois mundos. Com Florentino, a equipa parece perder agressividade ofensiva, com Gabriel, a questão de posicionamento defensivo mais elevado acaba por criar mais problemas à linha mais recuada da defesa. Julian Weigl ainda vai tentando encontrar o seu espaço, mas na curta amostra deixada no terreno de jogo, percebe-se que será um jogador mais vezes “Florentino” do que “Gabriel”. Uma dúvida a sobrar para a exigência que se continuará a fazer ao nível do trabalho coletivo dos encarnados.
FC Porto, máquina de atacar à procura de afinação
Menos seis golos marcados e mais quatro sofridos acabam por significar sete pontos de desvantagem para o FC Porto em vésperas de novo clássico. Isto quando, na Luz, os azuis e brancos se superiorizaram de forma clara em relação ao Benfica, travando a capacidade ofensiva do rival e alcançando uma vitória que parecia ditar uma correlação de forças diferente para este momento. No entanto, o Benfica tem feito o campeonato quase perfeito (só vitórias, para lá desse deslize), enquanto os portistas, que já haviam perdido em Barcelos, empataram fora com Marítimo e Belenenses SAD e perderam, em casa, com o Braga de Rúben Amorim. O resultado pesa na análise feita ao conjunto de Sérgio Conceição, bem como as dificuldades estilísticas que a equipa revela desde a temporada passada.
Isso não impede que, olhando para os números, o FC Porto continue a revelar uma elevadíssima produção ofensiva. Ao fim de 19 encontros, os portistas são o conjunto com superior média de posse de bola, com mais dribles conseguidos e a terceira equipa com mais remates por jogo (atrás de Vitória de Guimarães e SC Braga). São também os portistas que mais elaboram em cada jogada de golo de bola corrida, com uma média de 5.7 passes por golo conseguido (superiorizando-se aos 4.5 do Benfica). Dados que puxam para a questão da finalização parte dos problemas da equipa de Sérgio Conceição.
O FC Porto tem vivido das séries de golos dos seus avançados. Zé Luís no início da temporada, Tiquinho Soares nesta última fase. Marega tem caído de produção e a gestão da criatividade a partir da utilização de Jesus Corona, Otávio, Luís Diaz e Nakajima (ou das bolas paradas de Alex Telles) vem atrasando a definição do jogo dos portistas. Sérgio Conceição tem sentido bastantes mais dificuldades para ditar como quer que a sua equipa jogue e é nesse enquadramento que a equipa perde pontos, para além de clarividência na análise dos seus momentos. A ansiedade nunca foi boa conselheira.
Uma questão de regularidade
A expressão “campeonato da regularidade” pode acabar por tornar este clássico uma redundância no que ao apuramento do campeão se trata. Se é certo que os portistas venceram em Lisboa, uma nova vitória vai deixá-los, ainda assim, a quatro pontos do primeiro classificado. Uma diferença que continuará a pesar nas leituras que podemos fazer das duas equipas. A forma como cada técnico responde às dúvidas vem sendo, desta forma, o maior diferencial entre FC Porto e SL Benfica.
Se o estilo agressivo e confrontacional de Sérgio Conceição serviu aos portistas em momentos de maior distância para com o rival (a tal gestão das expetativas de que falou Sérgio Conceição em conferência de imprensa), agora parece acabar por tornar mais difícil a gestão do plantel para os objetivos determinados. A assunção de um Bruno Lage capaz de elaborar melhor perante os momentos de pressão, relegando nas qualidades dos seus jogadores decisões de jogo (substituindo peças em posições fundamentais para alternativos entendimentos do jogo), permite ao Benfica uma superioridade que é clara neste momento da temporada. Regressar sem perder do Dragão poderá, apenas, fortalecer aquilo que é consequência de estilo entre dois plantéis igualmente fortes no que toca a opções.