Na noite de sábado, 21 de abril de 2012, José Mourinho conseguiu finalmente vencer o FC Barcelona em 90 minutos, num jogo disputado em Camp Nou e a valer o título espanhol para o conjunto de Madrid. Desse encontro, registo algumas ideias:
1.Pep Guardiola sabe que perdeu este título para lá do confronto direto com o seu rival. Numa competição tão desequilibrada como a Liga Espanhola, todos os jogos com as restantes 18 equipas são decisivos para a contabilidade final. De certa forma, Guardiola tinha consciência desta perda há algumas semanas, quando a diferença de pontos chegou a dez. Os empates registados pelo Real davam algumas esperanças, mas o realismo de Pep apontava para a impossibilidade de ir buscar este título na reta final da Liga.
2.A derrota em Londres precipitou uma série de decisões na equipa catalã. Descansar Fabregas e, sobretudo, Alexis Sanchez, enfraqueceu a proposta ofensiva do Barcelona. A utilização de Dani Alves como extremo-direito também não cumpriu os objetivos. O Barcelona teve menos capacidade de surpreender o Real Madrid, oferecendo Messi ao triângulo Pepe-Sérgio Ramos-Xabi Alonso e entregando Alves ao 1×1 frente a Coentrão.
3.Chamar jovens à titularidade em jogos decisivos é, sempre, uma faca de dois gumes. Thiago foi um dos jogadores mais inconformados do Barcelona, mas sem Xavi a 100%, acabou muitas vezes perdido entre camisolas brancas. Tello poderá ser um bom jogador no futuro mas, nesta fase da carreira, não chega para fazer tremer um experimentado Arbeloa. No fundo, ao entregar dois extremos “incompletos” aos defesas laterais do Real, Guardiola não só não explorou as fragilidades que possíveis 2×1 poderiam causar junto às linhas, como permitiu que dois dos elos mais fracos do Real saíssem de Nou Camp com grandes exibições.
4.José Mourinho estava, desde o início da Liga, preparado para perder os encontros frente ao rival mas, mesmo assim, ser campeão. A grande evolução do Real Madrid no segundo ano de comando de Mourinho é a sua solidez na forma de entrar em jogo. O técnico português soube improvisar com as fragilidades do seu plantel. Na defesa, o desaparecimento de Carvalho deixou-o desprotegido no número de opções. No meio-campo, as lesões obrigaram-no a repensar dispensas. No ataque, exige-se cada vez mais a Cristiano Ronaldo e Benzema deve ao técnico português a sua sobrevivência na elite do futebol.
5.A história de Mourinho frente ao Barcelona faz-se de evolução. No primeiro encontro, em novembro de 2010, Mourinho entregou os seus jogadores ao sacrifício e perdeu por 0-5 em Nou Camp. Desde aí, obrigou a sua equipa a ser um conjunto de duros sofredores para arrancar quatro empates e somar uma vitória no prolongamento da final da Taça do Rei. O que parecia ser uma perda de identidade era, sem dúvida, um processo. Até ao ponto em que os seus jogadores pudessem olhar nos olhos um conjunto maior do que o jogo.
6.Repetir um onze tão criticado como foi o utilizado em Munique foi uma mensagem de união transmitida para o balneário. O reforço da ideia de que os campeões e os grupos se fazem ao longo de um período de trabalho e não dos resultados atingidos em cada jogo. O constatar que o papel de Arbeloa ou Coentrão é tão importante como o de Ozil e Ronaldo. Cada um tem a sua missão a cumprir em prol da equipa.
7.Ao contrário da filosofia onde Guardiola se enquadra, onde o prazer de jogar leva ao prazer da vitória, numa equipa liderada por Mourinho, à vitória chega-se com sofrimento e sacrifício. Enquanto o futebol do FC Barcelona entra na história da modalidade por se constituir como uma novidade, um fresco artístico do que o jogo da bola pode ser, o futebol do Real Madrid com Mourinho é uma homenagem a toda a história do futebol, desde o operário com entradas brutais ao avançado com toques de classe numa transição rápida e certeira como uma lâmina.
8.A partir deste jogo, o FC Barcelona já não está a anos luz do Real, mas o Real ainda não está em condições de iniciar uma sequência de vitórias sobre o seu rival. Por isso mesmo parece ser tão importante que Guardiola e Mourinho continuem à frente destes dois projetos. Porque o verdadeiro confronto começa agora. No momento em que filosofias antagónicas têm exatamente o mesmo peso sobre o relvado. E apenas uma poderá ganhar o jogo.