A segunda semana de treinos fica marcada pelas mazelas que uma parte dos atletas sofreram com as primeiras cargas físicas. Depois das chamadas férias grandes, onde a generalidade deles se dedicou às suas brincadeiras, o choque com a intensidade do treino levou a dores musculares e bolhas nos pés que o tempo se encarregará de os fazer ultrapassar. No entanto, como nestas duas semanas ainda não havia aulas, na sua mente eles continuam de férias. E isso é mais difícil de ultrapassar do que as pequenas dores. Sem os jogos no horizonte, falta aos miúdos a percepção do tipo de ganhos que estes treinos poderão oferecer mais à frente na temporada, simplesmente, é algo que eles ainda não experienciaram. Sendo assim, ganha importância o trabalho mental.
Estando a trabalhar com miúdos de 11, 12 ou 13 anos, é importante perceber-lhes as motivações para estarem no basquetebol. Alguns deles gostam mesmo muito deste desporto, a outros agrada-lhes a prática e estar entre amigos. No que toca ao nível apresentado, também existem muitas diferenças, entre os jogadores que têm a sua aprendizagem técnica consolidada e a quem podemos exigir mais a cada treino, até a alguns que estão agora a começar a conhecer a modalidade. Nesta mescla, o trabalho mental também é muito diferente. Se a uns podemos fazer exigências, apontar questões de pormenor e dificultar mais cada tarefa em cada exercício, a outros temos que premiar as suas primeiras realizações e alimentar a sensação de que vão ser capazes de ser tão jogadores como os outros.
Dentro do grupo, como é óbvio, essas diferenças são também percebidas. Quem está no nível mais alto tem a tentação de se dedicar um pouco menos, para não se afastar em demasia dos seus colegas. Não tem a noção de que a sua meta não é ser o melhor da nossa equipa, mas vir a ser o melhor que ele próprio conseguir ser. Trabalhar essa nuance é fundamental. Quem se apresenta no nível intermédio, por vezes pode sentir-se injustiçado por se ver mais vezes repreendido do que outros. Mas conquistar-lhes a confiança passa por ser capaz de lhes demonstrar que as repreensões e as chamadas de atenção servem para subir ao degrau seguinte da nossa escada. Finalmente, há um esforço contínuo para que ninguém fique satisfeito apenas por estar na equipa. Não podemos alimentar o “isto chega” que é, muitas vezes, confortável e acolhedor para quem não quer ter trabalho. Ajudá-los a encarar os desafios que o seu talento lhes coloca e motivá-los a ultrapassá-los é a nossa missão de treinadores.
Amanhã há treino!