Acabo de ler o último livro de Phil Jackson, Eleven Rings – The Soul of Success, no seu título original. Todo o livro acaba por ser uma visão prática aplicada daquilo que é um longo processo de vida, feito por alguém que depois da sua carreira enquanto jogador profissional, se trabalhou profundamente ao nível da sua personalidade e da sua ação, para ser um dos treinadores de basquetebol mais bem sucedidos do mundo.
Liderar a partir do coração
Somos demasiadas vezes levados a tentar repetir ou imitar aquilo que vemos nas pessoas que gostaríamos ser. Como treinadores, estudamos e aplicamos receitas dos nomes que mais sucesso ou mais capacidade de atração geram sobre nós. No entanto, só liderando a partir do coração – falando e fazendo aquilo que nós próprios sentimos como o caminho certo a seguir -, conseguimos atingir aqueles que estão connosco.
Esquece o teu ego
O desporto, tal como a vida, é um confronto constante de egos. Numa equipa, esses egos acabam por ser acicatados pelos pais ou pelos amigos que fazem dos “seus” jogadores os melhores do mundo, gente única. Para um treinador, impor o seu ego é um trabalho, não só desnecessário, mas também contra-produtivo. Sem que isso signifique passar a ser um indivíduo brando nas suas opções, deves deixar o teu ego de parte, quando queres que o teu grupo te siga. Mais importante do que fazer com que os egos choquem, é descobrir o tom onde eles se encontram para atingir o objetivo comum.
Deixa que o jogador descubra o seu destino
Tantas vezes queremos apressar a solução de um problema de um jogador inundando-o com indicações ou regras que vamos impondo no decorrer do treino ou do jogo. No entanto, devemos confiar que cada jogador, um ser inteligente, tem em si a capacidade de descobrir o seu destino. Sobretudo num conjunto de formação, o destino nem sempre é aquele que o treinador gostaria de desenhar. Numa equipa temos jovens que serão atletas, mas muitos mais passarão a vida na bancada, como adeptos, ou poderão mesmo não voltar a pisar um campo. Aquilo que aprenderem enquanto estiverem contigo, no que toca à confiança de decidir, é o melhor que tens para lhes oferecer.
O caminho para a liberdade
É curioso que, sendo Phil Jackson um dos técnicos de maior sucesso do mundo, o seu estilo de jogo preferido é, justamente, creditado a Tex Winter, que o acompanhou como Adjunto nas várias equipas que treinou. O Triângulo Ofensivo é, segundo Jackson, um sistema que procura oferecer aos seus jogadores possibilidades de se libertarem e encontrarem em cada jogada a melhor forma de a finalizar. Parece-me que o exemplo de Jackson e Winter é fiel a esse ensinamento. Como sublinho no título, os anéis conquistados foram apenas uma consequência.
Transforma o jogo em ritual
Um jogo pode ser das coisas mais prosaicas da nossa vida. No entanto, numa rede de relações intensa entre treinadores, jogadores, adversários, árbitros, adeptos, pais, constrói-se uma verdadeira família que precisa de encontrar os seus momentos de comunhão. Cabe ao treinador ritualizar essa atividade. Dando importância à pertença ao grupo, criando formas de juntar vontades, apontando reflexões a fazer. Transformar o jogo em ritual aumenta a importância do mesmo no interior de cada um dos componentes do grupo, fazendo com que o hábito permita também um conforto que encontramos quando nos sentimos entre os nossos.
Não há tática, há mente
Num jogo cada vez mais composto por uma eterna transição entre defesa e ataque, a componente tática parece funcionar como uma espécie de travão à expressão das individualidades. Não quero com isso tornar o jogo caótico e fruto apenas das vontades de cada um, mas sim reforçar que o que existe em campo é uma equipa, com os seus diversos componentes. Phil Jackson sublinha que, muitas vezes, tentava encontrar a forma como a mente dos jogadores fluia, mais do que preocupar-se com modificações táticas. As sensações que cada atleta retira do jogo, a forma como se relaciona com o espaço e com o adversário, a confiança que cria em cada ação da partida, são, no final, o grande medidor da performance de cada um. O treinador, esse, precisa de encontrar o espaço para, durante o jogo, conseguir meditar sobre isso.
Em caso de dúvida, não faças nada
Este pode ser um dos pontos mais polémicos da filosofia de Phil Jackson, mas apoia-se em vários estudos científicos que comprovam que, muitas vezes, as melhores soluções para os problemas de uma empresa são encontrados pelos seus funcionários em momentos de folga ou de pausa na sua atividade. Forçar a resolução de um problema parece não ser solução. Confiar nas opções tomadas para o plano de jogo e na capacidade dos seus jogadores em interpretar as melhores soluções que lhe estão disponíveis pode ser, muitas vezes, o melhor caminho a seguir. Difícil, sem dúvida, mas um estado ao qual devemos aspirar, aqueles que querem fazer do treino – e da liderança – o seu caminho.
Têm à mão um chicote
Phil Jackson recorda uma variante zen em que os monitores recorrem a um pequeno chicote para “despertar” quem medita. Também o treinador precisa de ter à mão esse pequeno chicote, para acordar os seus jogadores. Saber quando e como o utilizar é, no entanto, uma aprendizagem profunda. Na ânsia de queremos criar o melhor ambiente e condições de evolução para os nossos atletas, caminhamos, muitas vezes, sobre a risca de ter um excesso de divertimento e brincadeira nos momentos em que precisamos dos nossos jogadores concentrados no que há a fazer. Fazer estalar o chicote, no momento e na dose certa, é uma virtude.
Dá importância ao percurso
Uma temporada não é uma classificação final na tabela. Um jogo não é apenas o seu resultado. Um período não é o princípio nem o fim de nada. Um treino é apenas mais um elemento do processo. Um exercício é apenas mais uma oportunidade. Dá importância ao percurso. Esquece o fim e aproveita cada momento pelo qual passas, enquanto treinador, junto da tua equipa. Ensina a tua equipa a fazer o mesmo. Será por aí que as melhores coisas começarão a acontecer.
Eleven Rings – The Soul of Success
Tradução espanhola: Once Anillos – El Alma del éxito
Phil Jackson e Hugh Delehanty
Roca Editorial
2014