Quando se lida com um grupo de jovens entre os 10 e os 13 anos, temos a perfeita noção de que a concentração é uma habilidade que, por muito que se trabalhe, parece escapar entre os milhares de distrações possíveis para o atleta. No treino, qualquer momento se transforma em cena apropriada para brincadeira, qualquer movimento no pavilhão é alvo de um comentário que, por sua vez, dará espaço a uma nova rede de distrações.
Esta fase do desenvolvimento dos jovens é, sobretudo para eles, muito ingratas. As suas técnicas de relacionamento social são ainda muito influenciadas pela infância, sendo que vários deles ainda são vistos como “apenas” umas crianças pelos próprios pais. No entanto, um argumento de criança dado por um deles não é, quase nunca, convincente para um treinador que se colocar na posição “cínica” de o olhar como um pequeno adulto que deve assumir as suas responsabilidades. O atleta vive no limbo.
As chamadas de atenção só são eficazes quando contextualizadas, ou corremos o risco de estar a “espingardar” sobre um território cada vez mais pronto a ignorar-nos. No entanto, pode ser exasperante estar sempre a tentar apelar ao bom senso de um miúdo. Em situação de jogo, tudo se agrava. Tentamos minimizar as responsabilidades de cada um, dando-lhe uma tarefa específica para desenvolver no jogo, mas muito rapidamente a sua capacidade de concentração se esfuma nas distrações que o próprio jogo oferece.
Coloca-se então a dúvida sobre como trabalhar a concentração. Caso a caso, não resulta. Mesmo quando tentamos “puxar” pelos que são mais responsáveis e mais focados nos exercícios de forma a que influam sobre os outros, a força do brincalhão é, tendencialmente, maior, sobretudo em grupos destas idades. Passa-se então a tentar trabalhar a concentração como um todo, envolvendo-os em tarefas comuns, com um nível de exigência física médio-alto, tentando dessa forma “dominar” distração.
A particularidade do grupo que temos, este ano, está no facto deles interpretarem o aumento de exigência com um castigo. A chamada de atenção é vista como reprimenda, o pedido de maior entrega é visto como um excesso, a elaboração de exercícios complexos é entendida como uma forma de punição. Seremos nós, os treinadores, as únicas pessoas na vida destes jovens que lhes exige responsabilidade, foco e comprometimento? É que este tipo de habilidade, se não for treinada intensamente por todos os adultos que os rodeiam, torna-se quase impossível de aprender.
Amanhã há treino!