Comecemos pelo mais importante. Esta semana a equipa ganhou um jogo. As sessões de treino, apesar de condicionadas pelos testes que a generalidade dos atletas tem tido, foram bem aproveitadas e a subida de rendimento dos atletas no treino aumentou-lhes a confiança ao ponto de terem tido a capacidade para ir vencer um jogo fora. Soube melhor ainda porque foi frente a um adversário que já nos tinha ganho no nosso pavilhão e assim o resultado, mais do que os pontos da vitória, é também um sinal claro de que o trabalho compensa e que a evolução começa agora a ganhar terreno para ser mais completa.
No entanto, nesta vitória, eu não estive presente. Devido a estar em formação e ser, para os devidos efeitos, um treinador estagiário, sugere o regulamento que, mais importante do que respeitar a equipa e os atletas, o “projeto de treinador” marque presença na ação complementar de formação. Sugere? Sim, sugere, porque, na verdade, as regras são subjetivas.
Subjetivas porque, à partida, não poderiam ser marcados jogos para os sábados de manhã. Subjetivas, também, porque, para isso acontecer, seria necessário haver a concordância dos dois clubes envolvidos nessa marcação. Subjetivas, ainda, porque o formando teria o direito de pedir anulação do referido encontro para marcar presença na ação. Mas há mais. É subjetivo, também, porque, no final, talvez a presença na ação não fosse obrigatória, talvez a falta significasse, apenas, uma penalização na nota.
Por isso, hoje, não pergunto para que serve um estagiário. Percebe-se que um estagiário serve, acima de tudo, para alimentar a máquina. Porque a máquina precisa de quem esteja disponível para ajudar em situações onde, quem já não é estagiário, talvez já não esteja disponível. A máquina precisa de obrigar à presença em lugares onde, quem já não é estagiário, talvez não queira estar presente. A máquina tem, finalmente, que impor regras que, quem já não é estagiário, não se vê na necessidade de cumprir.
Infelizmente, a máquina e o estagiário reencontram-se, ponto a ponto, nas mais diversas áreas da nossa sociedade. O que importa é cumprir a burocracia, porque, sem burocracia, imagine-se a confusão que isto iria ser. E tudo para que, uma vez cumprida, essa burocracia possa voltar a ser sumamente ignorada. Confusos? No dia em que perceberem, não poderão deixar de se sentir revoltados.
Nota: Apesar do tom do texto ser de alguma raiva e revolta, o facto de ter estado durante duas semanas (o tempo que demorou o processo entre marcação de jogos e ação de formação e o dia em que tudo culminou) também fez com que tudo acabasse analisado e relativizado. O que não me deixa de me preocupar é que, nos casos de outros estagiários mais jovens e menos capacitados para saber colocar as coisas nos seus devidos lugares, a mensagem que lhes seja passada é a do “come e cala, quando estiveres por cima, poderás ser tu a mandar no que quiseres”. Ora, é essa mesma mentalidade, reproduzida ao longo dos tempos, que leva a que a modalidade, o clube ou o país estejam como estão. E é essa mesma corrente que, no fim disto tudo, gostaria de ver quebrada. Ainda não foi hoje.