Desenhamos planos para a temporada a partir das expetativas que havíamos criado da observação e trabalho realizado com estes atletas no ano passado, mas quando se mudam peças num grupo, esse grupo passa a ser um outro, pouco interessando a transição de uma maioria jogadores de um ano para o outro. Assim, cada jogador e cada temporada têm o seu valor próprio e existe um sem número de condicionantes, internas e externas, que acabam por influenciar novas direções, algumas delas, inesperadas. Perante tudo isto, como treinadores, não nos podemos esquecer que os nossos atletas “são pessoas, senhor!”
Também assim acontece com aquilo que tentamos predeterminar para cada sessão de treino. Temos que lidar, constantemente, com um certo nível de incerteza no número de atletas que marcam presença, chegando a variar entre nove e dezoito elementos. Cada um deles chega ao treino, no final do dia, marcado por experiências individuais que podem ter incluído testes ou aulas mais exigentes mentalmente, sessões de educação física que os marcam fisicamente, explicações, trabalhos de casa, brincadeiras, jogos de computador, discussões com os pais ou com os amigos… uma lista infindável! Perante isso, cada exercício e cada objetivo vê-se, necessariamente, adaptado consoante o nível de contribuição física e psicológica que cada jovem pode dar. É por isso que, como treinadores, não nos podemos esquecer que os nossos atletas “são pessoas, senhor!”
É por tudo isto que, por vezes, inclinados que estamos a avaliar e a retratar os nossos atletas a partir daquilo que eles trazem para o treino, acabamos por não ver o potencial que transportam em si. Jovens de dez, onze, doze ou treze anos, estão num momento fulcral da moldagem da sua personalidade, com os reforços que damos ou esquecemos de dar a poderem ter consequências brutais nas suas ações imediatas e futuras. Por isso é tão importante conseguirmos ter momentos em que promovemos a reunião do grupo para além do treino e do jogo, num passeio ou numa ação que nos permita ver quem é que existe para lá do jogador X. Também pelas mesmas razões não nos devemos nunca esquecer de planear cada sessão com certeza sobre aquilo que queremos reforçar nas suas ações a atitudes. Porque, insistindo em parafrasear a Rainha Santa Isabel, aquilo que temos nas nossas mãos “são pessoas”, senhor!”
Amanhã há treino!