Talvez as minhas reflexões semanais comecem a sofrer de uma invasão de empatia, mas de facto, não há treinador, nem equipa, que possa viver sem ela. Esta semana, o nosso trabalho passou, uma vez mais por tentar buscar as capacidades empáticas dos jovens que trabalham connosco.
Aproveitando as férias escolares, mudamos os horários dos treinos para as nove da manhã, simulando, esta semana, treinar à hora que se joga. Os ganhos de o fazer são evidentes. Apesar de termos tido apenas três dias para impor um novo ritmo de trabalho, mantivemos, em período de pausa, o hábito do levantar cedo e, melhor, fazê-lo para a prática física. É normal que muitos dos nossos jogadores aproveitem as férias para se dedicarem a atividades de “extremo” lazer, como passar horas a jogar consola ou sentados em frente à televisão. Duas horas de treino diário, logo pela manhã, como que ocupa a primeira metade do dia, fazendo com que o seu corpo e a sua mente estejam assim preparados para dar respostas.
A verdade é que voltamos a vencer um jogo, no domingo de manhã, com todos os jogadores a conseguirem dar uma resposta muito positiva, não havendo as “caras de sono” que até são habituais sempre que jogamos bem cedo pela matina.
Uma final nas bancadas
Depois de uma semana de treinos, de um sábado dividido entre um convívio de minis e um jogo de seniores e um domingo de manhã com os sub-14, a tarde de domingo foi aproveitada para observar a última jornada da Final 6 do Campeonato Distrital de Lisboa desta categoria. Alguns dos miúdos acompanharam-nos para verem os seus amigos e conhecidos a viver uma experiência única nas suas curtas carreiras.
Daquilo que os miúdos foram sublinhando durante esta tarde, destacam-se o reconhecimento da muita qualidade de alguns dos atletas da sua idade demonstraram, quer a ultrapassar obstáculos, quer a ler situações de jogo. O cansaço das várias equipas, ao quinto jogo, era já por demais evidente, mas isso não impediu de perceber quem eram os melhores jogadores em campo.
No final, aproveitamos ainda para uma curta conversa sobre o ambiente que se viveu no pavilhão, convidando-os a colocarem-se no lugar dos seus iguais, a jogar perante bancadas cheias e barulhentas. “Ia ter vergonha”, “acho que ficaria nervoso”, “se calhar não faria as coisas bem”, “ia ser difícil perceber o que teríamos de fazer” foram algumas das respostas que soaram.
Por mim, penso que é uma enorme violência colocar jovens de 12 ou 13 anos a fazer cinco jogos de 32 minutos em três dias consecutivos. Mais expressivo ainda por, para duas das equipas, o quinto jogo ter sido disputado num verdadeiro ambiente de final (o vencedor sagrar-se-ia campeão distrital), com o pavilhão cheio de gente, buzinas e muitas palavras (que nem sempre foram as mais corretas). Voltando à questão da empatia, sinto que para alguns miúdos esta pode ter sido uma situação traumática. Porque falharam cestos que habitualmente marcam, porque não cumpriram com aquilo que lhes havia sido pedido, porque não se sentiram confortáveis a jogar basquetebol. Para a meia dúzia de jogadores que lidaram extremamente bem com o ambiente, o que me parece é que estariam melhor a competir com jogadores mais velhos, de um escalão acima, cumprindo com a sua evolução num nível de jogo mais próximo do seu.
No entanto, continua a sentir-se como muito importante o ser-se campeão. Para os pais vencedores, o título é uma espécie de reconhecimento do investimento feito nas suas crianças desportistas. Para alguns pais vencidos, infelizmente, fica uma sensação de derrota. Para vários dos miúdos que por ali passaram, esta poderá mesmo ser a melhor história (um título distrital) que terão para contar aos seus amigos em noites de copos, quando forem adultos, ou mesmo aos seus netos.
Esquecemo-nos como demasiada facilidade de que são crianças. Crianças que, apesar de poderem demonstrar algum jeito para a prática da modalidade, talvez nem estejam assim tão interessadas em competir num ambiente como o vivido, hoje, no pavilhão. Depois de semanas de treino muito intenso e dos cinco jogos em três dias, o mais provável é que amanhã acordem com muitas dores e nenhuma vontade de pensar na modalidade, a grande parte deles. E a época nem vai a meio. Era isso que nos deveria preocupar.
Amanhã há treino!
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