Tenho utilizado estas reflexões semanais para focar a experiência junto de uma determinada equipa com quem trabalho diariamente. No entanto, como muitos saberão, o meu envolvimento no basquetebol tem, esta época, diferentes matizes e, quando num só dia, todas elas se cruzam, é fundamental que a análise se alargue e se confunda entre elas. Então, ontem, investi as “vinte e quatro horas” do meu dia no basquetebol. Começou de manhã, num convívio de minibasket, continuou pela tarde, com um jogo de Sub-14 e terminou, à noite, numa partida de Seniores Masculinos.
Os convívios de minibasket são os lugares onde somos confrontados com a maior pureza de tudo o que está em volta do jogo. Genericamente, esta temporada, tenho encontrado treinadores e ambientes que sabem o que estão a fazer, nos convívios onde já participei. Não existe grande preocupação em contabilizar resultados, o tempo de jogo é bem distribuído pelos vários jovens equipados, as condições são aceitáveis para que a experiência de prática competitiva decorra. Precisamos, no entanto, de dar um pequeno passo adiante nestes encontros. Por um lado, assegurando que todas as crianças se divertem e ficam cativadas pela experiência. Num dos jogos de ontem, vi-me perante a necessidade de, para além de gerir o tempo de jogo da minha equipa, permitir que a equipa contrária conseguisse passar do meio-campo mais vezes, isto sem dar qualquer sinal aos meus jogadores que deveríamos “deixá-los” jogar. A opção foi passando por, com as trocas, ter a espaços combinações de atletas com mais dificuldades, de forma a igualar as situações de jogo. Mas não estou totalmente certo de ter logrado o objetivo. Por outro lado, preocupa-me que, sob a desculpa de ser “apenas” um jogo de minibasket, as pessoas indicadas para arbitrar os jogos se deixem levar por uma excessiva passividade na sua ação de arbitrar. Nestas idades seria fundamental ter uma arbitragem pedagógica, capaz de explicar porque marca as faltas e enquadrando-as no divertimento do jogo. Quer-me parecer que poderia começar aqui uma pequena revolução na forma como os nossos atletas olham para a arbitragem e para as regras do jogo.
O momento da tarde permitiu à nossa equipa de Sub-14 de ter uma experiência que ainda não tinha tido este ano, defrontando um adversário pela segunda vez na mesma temporada. Foi uma prova excelente para medir a nossa evolução, mas também perceber que nada acontecer apenas no nosso mundo, já que os atletas adversários também passaram por essa mesma evolução. O jogador mais forte do adversário, que no encontro passado tinha marcado mais de metade dos pontos da sua equipa, foi, desta vez, mais controlado, não tendo o mesmo impacto no jogo, mas do nosso lado, apesar de termos alcançado maior equilíbrio, senti muitas vezes que a equipa sentiu a responsabilidade do conhecimento. O que é isso? É a forma como enfrentamos algo que conhecemos. Quando partimos de encontro ao desconhecido, é-nos permitida uma certa temeridade que, quando estamos perante um adversário que conhecemos, já nos é, de certa forma restringida. Vamos ter, esta temporada, mais oportunidades de jogar com essa responsabilidade sobre os nossos ombros e esse será um desafio a merecer, sem dúvida, análise.
Finalmente, com o cansaço a apoderar-se pela sucessão de horas focado em jogos, a nossa equipa sénior masculina defrontou o líder do campeonato. Apesar de não termos tido oportunidade de ver o adversário jogar esta temporada, havia muitos dados para enquadrar aquilo que nos esperava: o conhecimento individual de vários dos jogadores adversários, o conhecimento das ideias do treinador adversário e ainda o do contexto do clube. Nos primeiros minutos de jogo sofremos uma série de 0-18, fruto de um intenso contra-ataque, que, de certa forma, matou a nossa ambição de disputar o resultado. No entanto, começou aí o nosso jogo no banco. Perante o melhor adversário, no que toca a conteúdos táticos de jogo, que já defrontámos esta temporada, o trabalho técnico no banco transforma-se numa experiência muito mais intensa. Sobretudo depois do intervalo, conseguimos impor modificações e acertos que nos permitiram, durante esses vinte minutos, equilibrar o encontro. O resultado final pouco interessou, perante a sensação de aprendizagem intensa em que esse jogo se transformou. No fim destas “vinte e quatro horas”, o que ficou foi a vontade de que todos os jogos pudessem ser como este: frente a equipas e treinadores que sabem bem o que querem e o que fazem, numa intensa aprendizagem, num desafio construído para quem é uma pessoa do basquetebol.
Amanhã há treino!