A importância do discurso de um treinador não está, quase nunca, naquilo que este diz, mas na forma como o atleta o escuta. Ora, na grande maioria dos momentos, um treinador não tem o mínimo controlo sobre a mente do atleta, não conseguindo por isso fazer passar o discurso preparado da forma ideal, já que o atleta está cansado, nervoso ou desfocado da situação em que se encontra.
Daí que, mais importante do que ensaiar ou copiar palavras para transmitir aos nossos jogadores, devemos preocupar-nos em olhar para eles, sentir-lhes as emoções e o momento, de maneira a encontrarmos a porta para entrarmos na sua mente. Por muitos manuais e artigos de psicologia do desporto que eu leia, cada vez acredito mais que aquilo que um treinador deve trabalhar é o instinto, caminho para chegar ao melhor entendimento que pode ter das pessoas com quem tem que lidar.
O trabalho de relembrar o nosso modelo ou princípios de jogo antes de cada partida pode ser feito de muitas maneiras. Quando tentamos desenhá-lo num quadro e repetir com os nossos atletas as movimentações preparadas no treino estamos, algumas vezes, apenas a laborar numa lengalenga que os atletas reconhecem, mas a qual não os preparar, no imediato, para o que vai acontecer no jogo. Devemos ter a noção de que esses princípios, se bem trabalhados e repetidos no treino, estão guardados, algures, na mente dos nossos atletas, sendo que o necessário é alertá-los para o que aí vem, em termos mais abstratos, mas mais poderosos e sugestionáveis para os seus sentidos.
Devemos, ainda, saber, quando incluir as exceções no nosso trabalho. Se, por princípio, serei sempre a favor das rotinas, saber quebrá-las de forma a “acordar” os nossos atletas é uma arte, ainda que arriscadas, que devemos trabalhar. No entanto, para o conseguirmos fazer com algum sucesso, devemos substituir a rotina por um trabalho que seja insistente em determinados objetivos, claros, entendíveis, para que os atletas percebam e adoptem a exceção como um desafio.
Amanhã há treino!