Semana 29 – Esta semana entrámos no desconhecido, toda a equipa, treinador incluído. Deixámos que fosse a intuição a conduzir decisões, apesar de acreditarmos que a intuição está fortemente baseada em crenças e em análises que se formalizam numa filosofia cada vez mais sólida.
Perante uma situação concreta – atraso na chegada ao treino de um grupo de jogadoras – a opção foi deixar nas mãos da equipa a decisão quanto ao início da sessão de treino. Ainda um tanto distraídas da situação, as jogadoras pegaram nas bolas e começaram a lançar, a brincar, a conversar pelo campo, enquanto o treinador estava encostado a um dos cantos do pavilhão, sem nada dizer.
Os minutos iam passando no relógio do marcador e, aqui e ali, algumas jogadoras cochichavam, interrogavam-se, mas mantinham-se na brincadeira. Passaram 26 minutos de treino, debaixo do silêncio da equipa técnica, para que uma jogadora ganhasse a coragem de se aproximar e perguntar se o treino ia ser “aquilo”. Iniciou-se aí, finalmente, o agrupar de todos os elementos da equipa.
Sem nunca levantar a voz, não entrando numa discussão sobre os atrasos e as responsabilidades, mas sublinhando o que aquele tipo de atitudes fazia para prejudicar a equipa, oferecemos à equipa a decisão sobre o que fazer em mais de uma hora de treino que ainda tínhamos disponível: treinar ou só jogar?
Difícil decisão. As jovens atletas reuniram-se no meio do campo e mediram possibilidades. Longe dos treinadores, acabaram por optar por treinar, explicando as suas razões. O treinador só teve que reforçar a sua escolha e implicar toda a equipa nela.
O treino foi bom? Não. O que ganhou a equipa? Um exercício de autonomia. Comparando atitudes, medindo a importância das decisões, envolvendo-se numa discussão e análise sobre a situação que as haveria de conduzir para o objetivo da semana.
Digo muitas vezes que não trabalho para a minha satisfação. O que faço com as atletas, tem como principal objetivo que o seu futuro seja risonho, não só nos termos da modalidade, mas naquilo que elas irão conseguir atingir como pessoas. Ponho as pessoas à frente das jogadoras, porque sei que nos momentos mais difíceis, serão as pessoas mais empenhadas e conscientes aquelas que irão ser capazes de resolver problemas.
E quando chegou o fim-de-semana, perante um problema competitivo bem exigente, foram as pessoas que se voltaram a unir para o vencer.
Amanhã há treino!