A Espanha apostou tudo na tranquilidade, quando manteve Vicente Del Bosque à frente da sua seleção, mesmo depois do que aconteceu no Mundial do Brasil. O primeiro jogo do Euro demonstrou-nos que a equipa ainda está em crise. O onze apresentado neste encontro teve apenas dois nomes que não estiveram no Brasil, Morata e Nolito, que tem 29 anos. No modelo e no estilo, a Espanha continua a alimentar-se do jogo posicional e da inteligência dos seus melhores jogadores, todos eles Made in Barcelona, Sergio Busquets, Andrés Iniesta e Cesc Fàbregas.
A exposição a equipas com guarda-redes em dia sim é enorme. Contra a República Checa, a Espanha lutou contra uma parede que entendia bem como recuar sempre a tirar espaços aos espanhóis. Era a Espanha a jogar bem e os checos a jogar mal, mas os efeitos práticos desta insistência espanhola pareciam perto de nulos. Ao ponto da primeira substituição de Del Bosque ter sido a saída de Morata (23 anos) para a entrada de Aduriz (35).
O golo acabou por chegar com Gerard Piqué em posição de ponta-de-lança. Curiosamente, a República Checa até teve uma grande oportunidade para empatar, mas a vitória espanhola acabou por se garantir. É uma equipa em crise, sim, porque não entende a renovação que é latente no futebol espanhol, através da reformulação das ideias base do Barcelona, por Luis Enrique, ou o trabalho realizado por treinadores como Unai Emery, Ernesto Valverde ou Marcelino. Dentro deste modelo, com este estilo, existe um mundo de pormenores à procura de uma renovação que não passará apenas pelos jogadores.
No entanto, a crise não significa o fim. A lealdade deste grupo à sua ideia de sucesso é o que justifica a manutenção de Don Vicente, um homem que fica na história do futebol como um líder quieto. Dentro do modelo que a Federação Espanhola tem desenvolvido, é no setor defensivo que Del Bosque põe o tom. A Espanha não sofre golos. E se isso pode não chegar para vitórias gordas na fase de grupos, pode ser o mais importante nos jogos a eliminar.