Explicação do resultadismo à luz do “Princípio de Albertina”

Numa das suas crónicas, Miguel Tamen desenvolve o “Princípio de Albertina”, defendendo existir uma diferença entre as coisas que admiramos e as coisas que somos capazes de fazer. Ora, parece-me que esse princípio moral pode-nos ajudar a perceber melhor a conversa sobre resultadismo que temos vindo a ter ao longo dos últimos dias.

Para Miguel Tamen, existe a opinião comum de que

gostar de uma coisa que não se sabe fazer é uma forma reprovável de gostar dessa coisa; e por isso é bom saber fazer as coisas de que se gosta. (…) é assim concebível que se venha a chegar a uma situação em que as pessoas passem a gostar apenas das coisas que sabem fazer.

Penso que é exatamente por esta porta que o resultadismo, não só entrou na conversa sobre futebol, como insiste em ficar, mesmo numa época em que já se produziu tanto conhecimento acerca da análise do mesmo.

Semanalmente somos confrontados com a ideia de que, no futebol, é impossível aceitar a existência de um adversário que nos possa bater. A razão para isso é mantermo-nos afincadamente resultadistas, agarrados aos números como única explicação possível do fenómeno que estamos a observar. Como parece aceitável que todos nós sabemos entender a diferença entre um golo marcado e um golo não marcado, seja numa baliza ou na outra, contemo-nos a procurar fora do resultado uma análise mais satisfatória para explicar o acontecimento.

É por isso mesmo que, perante um resultado, dirigentes decidem renovar contrato ou despedir um treinador. Olhando a soma de pontos que se alcançou num determinado espaço temporal, adeptos exigem aos seus jogadores que “joguem à bola”, como se fosse para outra coisa que se chamasse jogadores a quem está dentro do campo. E no final das contas, os próprios treinadores são levados na enxurrada, apenas acreditando na qualidade do seu trabalho se o resultado for o desejado.

O “Princípio de Albertina”

não equivale apenas à ideia de que há pessoas diferentes de nós, que na maior parte dos casos só é invocada para sugerir que ser diferente é indiferente. Equivale a outra ideia, muito menos comum: a de que muito possivelmente haverá pessoas melhores que nós.

A única forma de combatermos o resultadismo é, assim, tornar a nossa análise do jogo mais profunda, conversando sobre as identidades do trabalho de cada equipa, percebendo como num confronto elas se conjugam dentro de campo e, perante a natural conceção de que umas equipas são melhores do que outras, desenvolver princípios e estratégias que nos permitam conseguir ultrapassá-las dentro daquilo que são as condicionantes do jogo.

Por muito que nos queiram fazer acreditar no contrário, foi para isso que se inventou o futebol.

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