Pablito, o filósofo

Pablo Aimar, recentemente nomeado selecionador nacional argentino da categoria de Sub-17, deu uma entrevista ao jornal Pagina12, onde demonstra ser um tão bom pensador do jogo fora de campo como demonstrou ser dentro dele.

Conhecimento

¿Quién es el que sabe de fútbol? ¿El que gana? Yo creo que no. Yo creo que el que sabe es el que más enseñanza deja.

Para Pablo Aimar, a herança que se pode deixar no futebol não tem tanto a ver com vitórias, mas com o conhecimento que se deixa para as gerações futuras. Pensar o jogo, falar do jogo, desenvolver conhecimento à sua volta. E sem entrar, por aí, nas discussões sobre a presença do académico do jogo ou a influência do intuitivo. O jogo é um só. O conhecimento também. Esse conhecimento que se pode desenvolver de muitas maneiras, porque o futebol está em tudo.

Pensamento Colectivo

Equipo de fútbol que consigue evitar ese pensamiento individual, prevalece. Es que que hay una pelota y 22 tipos y cada tipo la toca 3 minutos sobre 90. Es decir que cada uno juega 87 minutos sin la pelota. Entonces, si vos conseguís moverte para que el gol lo haga un compañero, sos un genio. Si vos conseguís darle una solución al compañero y que él salga en la tapa y vos ni pintes, bárbaro, jugás para el equipo. Al final, los mejores jugadores de fútbol son los que hacen jugar bien al otro.

Desde logo, uma noção clara daquilo que espera do jogador. Um jogador que seja inteligente. A inteligência do jogo não está naquilo que diferencia o jogador quando tem a bola, mas com o somatório das suas acções na forma em que permitem a equipa atingir o objectivo. Por aqui, também, a percepção de que o melhor jogador é, também, aquele que melhor pensa, entende e desenvolve a sua acção a partir do contexto oferecido pelo jogo. Uma vez mais, conhecimento em desenvolvimento.

Paixão

Yo creo que hay una sola manera de conseguir la mejora de un futbolista y es la pasión. Sin eso no hay posibilidad de disfrute. Sin pasión, en el fútbol no hay nada. Necesitamos ese amateurismo. No podés ir a hacer horario de oficina en un entrenamiento.

A paixão. Por toda a entrevista subjaz esta noção de querer o jogo, de estar apaixonado por ele, de o amar. É essa conexão com o jogo que permite e dedicação total necessária, esse prazer que só nasce das coisas que queremos muito. Ao mesmo tempo, a paixão surge como uma crítica ao “modo funcionário de viver”. Esse modo que, alimentando outros interesses que não estão associados ao jogo em si, acabam por manipular as suas realidades e determinar o seu apagamento.

O estímulo do imediato

Somos la última generación que un partidos enteros. […] Porque están más acostumbrados a lo efímero. El partido de PlayStation dura 5 o 7 minutos apenas. Están acostumbrados a los resúmenes. A ver en el celular los goles de todo el mundo. Son víctimas de este estímulo.

Pablo Aimar alimenta a noção correcta, para quem será treinador de escalões de formação, de não criticar os jovens ou de fazer juízos de valor geracionais. Mas é um espectador atento daquilo que tem perante si, dos desafios que são lançados a um ser humano que, na sua forma de ser e estar, na relação que tem com o mundo, é essencialmente diferente. A principal diferença, essa ideia de que não haverá, no futuro, quem veja um jogo por inteiro. O estímulo do imediato, a repetição do golo, o resumo dos grandes lances, cria vítimas que perdem o encanto da espera, ao longo dos 90 minutos, daquele momento que é decisivo na partida. Curiosamente, um pouco mais à frente na entrevista, ao falar de Leo Messi, compara aquilo que ele é hoje e aquilo que ele era quando tinha 20 anos, realçando que o Messi de 20 anos era mais entusiasmante, por fintar quatro jogadores em dez lances por partida, mas que o Messi de hoje é melhor jogador, porque finta menos, porque o faz menos vezes, mas fá-lo no momento certo para ajudar a equipa a ganhar.

Filosofia

Conservar el amateurismo no significa no tener estrategia. Significa entrenar con una sonrisa. Es filosófico, no de sistema

Finalmente, Pablito, o filósofo. A exigência de uma filosofia no treino e no jogo. Uma filosofia ímpar, a do sorriso, que não é uma ausência de estratégia, mas é um reforço da paixão e da dedicação como a chave do sucesso. Pablo Aimar quer ser aquele que dá prazer a quem não gosta de perder, a quem quer ser melhor. Essa garra tem um sorriso nos lábios e uma estratégia bem definida para atingir o sucesso.

*Citações retiradas da entrevista publicada a 15 de Julho no jornal Pagina12.

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