Há trinta e três anos, uma seleção portuguesa de futebol chegava, pela primeira vez, a um Europeu. 1984 ficou marcado no imaginário de todos, pelas transmissões dos jogos em directo de França, onde a improvável equipa portuguesa cumpria uma caminhada histórica até a uma meia-final onde apenas o prolongamento nos trouxe a derrota contra o país organizador. Foram preciso esses trinta e três anos para que a seleção feminina pudesse experimentar essa mesma sensação, mas os tempos são agora muito diferentes.
Em 1984, a equipa nacional era exclusivamente composta por jogadores a actuar em Portugal, num equilíbrio quase perfeito entre FC Porto (9 elementos) e Benfica (8 elementos), com Sporting, Portimonense e Vitória de Setúbal a também marcarem presença na lista final. Na equipa que amanhã se estreará frente à Espanha, Sporting e SC Braga são as duas equipas mais representadas, com 5 jogadoras cada, tendo ainda presença outras equipas portuguesas, como o Futebol Benfica e o Valadares Gaia. No entanto, existem várias jogadoras com experiência noutras ligas, com portuguesas a actuar em Espanha, Alemanha, Suíça, Islândia, Suécia, Estados Unidos e Brasil.
Se do lado masculino, em 1984, havia já um antecedente histórico devido à presença dos portugueses no Mundial de 1966, no caso da equipa feminina é uma estreia total. Mesmo se Portugal apresentava uma equipa com uma média de idades a superar os 27 anos, com vários jogadores que tinham atingido a final da Taça dos Vencedores das Taças desse ano e muitos com larga carreira no campeonato português, os “Lusitanos” chegavam como autênticos desconhecidos. Chalana, um dos mais jovens da equipa, com 25 anos, apresentou-se à Europa e acabou ser a grande revelação.
As portuguesas também chegam com a mesma aura de novidade, ainda que, nos nossos dias, seja mais difícil falar de desconhecimento de uma equipa que atinge uma prova como esta. As jogadoras mais experientes do plantel não atingiram ainda os 30 anos, há mesmo uma adolescente na comitiva, Diana Gomes, de apenas 18 anos, perfazendo uma média de idades a rondar os 24. O crescimento do investimento nas equipas da Liga portuguesa faz com que várias jogadoras nacionais experimentem o regresso a casa, mas no mesmo sentido há jovens jogadoras a conseguir caminhar para as principais ligas europeias.
A expectativa é perceber o impacto que esta presença num Europeu poderá ter no futebol feminino português. Há uma conjugação de elementos que poderão, num curto espaço de tempo, fazer toda a diferença. Primeiro, o aumento da atenção dada à Liga com a entrada de Sporting e SC Braga, pois ainda que possa ter outro tipo de implicações em equipas pequenas, a verdade é que o equilíbrio nunca foi propriamente a nota das disputas de título no campeonato do nosso país. Essa atenção tem permitido um crescimento exponencial do público. Esta presença no Europeu vem reforçar esse crescimento, faltando apenas juntar-lhe um momento que o faça brilhar – precisam-se de golos, de uma vitória (ainda que muito difícil), de um acontecimento que reforce a importância deste feito.
2017 tem tudo para ficar marcado no imaginário das jovens aspirantes a serem jogadoras de futebol. Esta quarta-feira, a partir das 17 horas, é o sonho que entra em campo com a camisola de Portugal.