Luís Cristóvão

Os desafios de Rúben Amorim no Sporting

Imagem: Sporting TV

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Depois de 13 jogos como treinador principal do SC Braga, Rúben Amorim ruma a Alvalade com a missão de salvar a época dos leões e terminar em terceiro lugar. Depois de Marcel Keizer, Leonel Pontes (como interino) e Jorge Silas, o jovem treinador, que no espaço de dois meses pôs Braga a viver o máximo das suas potencialidades, terá um enorme desafio para cumprir no Sporting. 

Valor e Valorização

O valor recorde de 10 milhões pagos pelo Sporting para poder apresentar Rúben Amorim como seu novo treinador são um cartão de apresentação bem pesado. Trata-se de um valor singular para a aquisição de um treinador, quando, na história do clube, apenas por uma vez esse valor foi superado na compra de jogadores. 

Perante um plantel onde as carências são por demais evidentes, os 11 jogos que faltam disputar até ao final da Liga NOS colocam Rúben Amorim perante a necessidade de mostrar capacidade de valorizar os 10 milhões pagos pelo seu resgate. Essa valorização terá que ser feita através do plantel que dispõe em mãos. 

Em Braga, Rúben Amorim optou por um sistema com 3 defesas, 4 homens no meio-campo e 3 avançados. A ideia era reconhecida pela maioria dos jogadores do plantel, que já trabalhavam com esse sistema com Abel Ferreira, e a operacionalização do jogo tratou de fazer uma evolução tranquila. A grande revolução surgiu no discurso apresentado pelo treinador. 

Para o desafio frente ao Desportivo das Aves, Rúben Amorim procurará criar o mesmo efeito que alcançou com a goleada frente ao Belenenses SAD na sua estreia com os Guerreiros do Minho. Com Luís Neto ausente por castigo, este poderá ser o onze escolhido, caso o técnico opte por lançar uma alteração tática que, quer Keizer, quer Silas, já testaram.

Estilo e Identidade

No momento da sua apresentação em Braga, Rúben Amorim reforçou que a identidade do jogar seria o seu grande objetivo enquanto treinador da equipa. Essa mudança acabou por ser operada, no que toca ao sistema de jogo, reforçando também o papel de jogadores de quem se previa uma possibilidade de valorização de mercado, como acabou por acontecer com Trincão.

Em Alvalade, Frederico Varandas tem colocado muito ênfase na questão do estilo. Foi por isso que José Peseiro foi substituído por Marcel Keizer, que nos primeiros tempos em Alvalade tentou uma pequena revolução tática da qual teve que abdicar com o passar dos tempos, o mesmo acontecendo com a saída do holandês e a entrada de Silas, que no dia da sua despedida afirmou que teve que “adaptar” à realidade do plantel.

Se, por um lado, o efeito 10 milhões quase que obriga a mudanças drásticas no estilo e nos resultados, estes 11 jogos em Alvalade acabam por ser uma espécie de medida de uma realidade futura. Em cima da mesa, no entanto, mais do que a forma de jogar, os resultados terão um peso específico, já que qualquer lugar que não seja o terceiro implicará um início de temporada antecipado (e consequente insatisfação de adeptos). 

De alguma maneira, Rúben Amorim está na mesma situação que tinha em Braga, mas num quadro de muito menor pressão, com um trabalho anterior com muito menos por onde pegar (de alguma maneira, a realidade do plantel negou a Keizer e a Silas a reformulação estilística da equipa), com um contexto de resultados bem pior (o Sporting vem de eliminação europeia). 

Ainda a questão do “Ser Treinador”

A 22 de janeiro, analisando os momentos iniciais de Rúben Amorim no Braga, escrevia isto

O “génio tático” é aquele que se revela logo nos primeiros tempos de trabalho. O líder surge depois, na forma como gere expetativas já não demarcadas pelos técnicos anteriores. O treinador, na totalidade das suas capacidades, é aquele que no longo prazo demonstra capacidade processual de evolução, com adesão plena dos elementos que fazem parte do seu grupo. 

A primeira pergunta a colocar é se Rúben Amorim terá direito a repetir o mesmo efeito de partir do zero em Alvalade. Dificilmente o conseguirá. Hoje, pelo trabalho feito nos 13 jogos com o Braga, é um treinador que é reconhecido pelos seus pares. O valor pago pela sua contratação também não alimenta estados de graça. Terá que rapidamente ultrapassar a questão do “génio”, que o próprio apelidou de “estrelinha” e começar a apresentar efeitos com processo de evolução. 

A segunda pergunta que se colocará tem que ver com a capacidade da equipa técnica. A idade não é documento de competência, estou certo, mas a experiência acumulada é um fator elevado de diferenciação de trabalho. Para além de Rúben Amorim, com curta experiência de comando técnico, Emanuel Ferro continuará como Adjunto/Principal (é o elemento da equipa que apresenta o Grau IV de Treinador), viajando com Rúben Amorim Carlos Fernandes e Adélio Cândido, com 25 e 23 anos. Tiago Ferreira será o treinador de guarda-redes. É uma equipa técnica relativamente curta para a realidade do futebol de alta competição. Será que podemos continuar a olhar para o treinador como o salvador de uma estrutura inexistente? Esta é uma questão que não se coloca apenas ao Sporting, mas que a chegada de Rúben Amorim se promoverá como mais um caso de estudo. 

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