A grande surpresa do futebol europeu, esta temporada, mora em França, onde o Montpellier vai segurando o primeiro lugar da Liga quando faltam apenas seis jornadas para o final. Longe dos grandes investimentos que se fazem no futebol do hexágono (a equipa detém apenas o 9º orçamento da Liga, ou seja, está em último lugar da primeira metade da tabela em termos financeiros), a equipa do sul do país chega a uma posição de destaque baseando a sua aposta na formação de jogadores. Depois de ter alcançado o regresso à Ligue 1 sob a liderança de Rolland Courbis, a aposta feita em René Girard, em 2009, reforçou a posição dos jogadores saídos dos escalões de formação do Montpellier.
O técnico vinha de um largo período à frente da Seleção de Esperanças gaulesa e logo introduziu na equipa jovens como Younés Belhanda e Yanga-Mbiwa. Aproveitando também a qualidade de jogadores de divisões secundárias, foram sendo trazidos para a equipa, nos últimos anos, Olivier Giroud e Henri Bedimo, para além de Garry Bocaly e dos mais experientes John Utaka e Marco Estrada. Se a eles juntarmos Remy Cabella e Benjamin Stambouli, outros jovens provenientes da equipa B que começam a ganhar minutos na presente temporada, temos quase completo o onze da equipa. René Girard conseguiu o apuramento para a Liga Europa logo na primeira temporada, terminando em 5º lugar. No ano passado, provou a desilusão, já que a participação europeia terminou logo na primeira ronda, sendo afastada pelos húngaros do Gyor na marcação das grandes penalidades. Na Liga, as coisas não foram melhores, com o Montpellier a lutar pela manutenção e terminando num nada honroso 14º lugar. Ainda assim, Girard manteve o seu lugar e o seu trabalho foi reconhecido pela direção do clube, dando-lhe nova oportunidade para enfrentar uma temporada com o seu jovem plantel.
As coisas não podiam estar a correr melhor. Com a plena afirmação de Belhanda e Giroud, a equipa do Montpellier tem afirmado, dentro de campo, uma grande harmonia entre a juventude e os elementos mais experientes do seu grupo. Jourdren, guarda-redes também formado no clube, tem dado mostras de ter nível para uma equipa campeã, enquanto Hilton na defesa e Marveaux no meio-campo são peças fundamentais na segurança mental deste conjunto. Com o Paris Saint-Germain de Carlo Ancelotti a dar sinais de fraqueza, sobretudo dada a baixa de forma de jogadores nucleares, como Javier Pastore, e a retirada da equipa de jogadores que vinham a ser indiscutíveis desde o início da época, como Sakho e Nené, a equipa do Hérault tem conseguido segurar o primeiro lugar, mesmo registando duas derrotas no último mês. Curiosamente, as duas derrotas foram sofridas em relvados sintéticos (Nancy e Lorient), o que acaba por revelar alguma inadaptação da equipa a estes terrenos.
Com deslocações a Toulouse, Rennes e Auxerre e a visita do Lille no seu terreno, o calendário não dá sinais de ser fácil para o conjunto de René Girard. Ainda assim, os dois pontos de vantagem sobre o Paris SG e a maior frescura mental denotada pelos seus principais jogadores (sobretudo em comparação com as estrelas dos seus rivais), permitem acreditar que o sonho do Montpellier é possível. Criar uma equipa com um orçamento controlado e uma aposta nos valores mais jovens. Um exemplo a seguir por muitos dos que querem fazer figura no topo das ligas por toda a Europa.