O campeonato e as escolas

Na tarde de ontem era possível encontrar no Centro de Congressos de Matosinhos mais de duas dezenas de treinadores de Universidades norte-americanas. Todos eles viajaram até Portugal com um objetivo comum: o de observar o talento que compete no Campeonato Europeu de Sub-18 feminino. Podíamos alongar-nos sobre a oportunidade perdida que é ter tanta gente com imensa qualidade no nosso país sem que isso sirva para fortalecer laços ou para divulgar algum tipo de aprendizagem. Mas vamo-nos cingir ao que interessa. Aos milhões que estão em jogo.

A generalidade dos técnicos aqui presentes gere orçamentos inimagináveis ao nível do basquetebol português e de até algumas das boas equipas europeias. Esses orçamentos estão plasmados em bolsas completas que os técnicos podem oferecer às jogadoras que pretendem ter no seu plantel. Uma boa jogadora europeia pode ambicionar a entrar numa Universidade que esteja entre as 64 mais fortes, aquelas que disputam o título da NCAA na March Madness. Uma bolsa numa dessas Universidades permite jogar ao mais alto nível e, em quatro anos, completar (ou ficar perto disso) uma licenciatura nos Estados Unidos. Por lá, todas as atletas ambicionam alcançar uma destas posições, que garante ferramentas para enfrentar o futuro, seja a jogar basquetebol, seja na profissão que escolher seguir. Por cá, as vantagens nem sempre são percebidas.

É verdade que, por estes dias, as propostas multiplicam-se. Convites de equipas europeias, entre vantagens a nível competitivo (jogar num país de maior exigência desportiva) e/ou monetário. E também é verdade que a porta de entrada para uma equipa europeia revela facilidades que na Universidade norte-americana não são tão simples. Para jogar numa equipa da NCAA, é preciso ter completado o 12º ano, ter uma nota positiva nos testes de acesso à Universidade e nunca ter assinado um contrato profissional. Para uma jogadora portuguesa, a terceira cláusula não é problema. Já as outras duas revelam caminhos mais pedregosos.

Na formação dos nossos jovens atletas, nem sempre revelamos o bom senso de garantir o seu sucesso nos diversos campos. Mesmo que nos queixemos de falta de horas de treino ou de pavilhões sobrelotados, nem sempre temos o cuidado de garantir que os nossos atletas também na escola alcancem os resultados necessários para se manterem no topo. Não precisamos de ter alunos de 20 a serem estrelas do basquetebol, não é disso que se trata. Mas o nível de exigência dentro de campo deve ser igual ao fora de campo. Porque, em última análise, seja para garantir uma bolsa na Universidade ou seja para se ter sucesso na vida, vai ser preciso manter a fasquia elevada. Ser o melhor atleta que se possa ser, ser o melhor aluno que se consiga, ser a pessoa com mais ferramentas para enfrentar o que tivermos que enfrentar.

Não se esqueçam os treinadores que têm um papel relevante em todas estas opções.

Luís Cristóvão

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