Uma equipa presente num Europeu simula um ano de competição comprimido em cerca de 11 dias. Durante esse tempo, o treinador tem que saber manter elevados os índices físicos e mentais de todo o grupo, acompanhando também todos os momentos dos seus adversários, que a partir de certa fase passam a ser conhecidos apenas no dia anterior. É uma prova de stress elevado e que exige uma reação rápida quase diariamente.
A dificuldade inicial está ligada ao conhecimento prévio que se tem dos adversários. Utilizando como exemplo o Europeu de Sub-18 Femininos, a maioria da informação é recolhida de anos anteriores, já que as jogadoras presentes em Matosinhos têm, em muitos casos, já dois ou três anos de presenças acumuladas em provas europeias. Em Miskolc, há dois anos atrás, no Europeu de Sub-16, foi possível ver presentes uma grande maioria das jogadoras e equipas que são, este ano, relevantes.
Obviamente que confiar nesta informação tem alguns problemas. Existem jogadoras que no espaço de um ou dois anos evoluem para ser algo bem diferente. O caso mais paradigmático disto mesmo é a holandesa Janis Ndiba. Há dois anos atrás, era uma jogadora de 15 anos e com um forte potencial como interior. Neste momento, conjuga esse potencial com uma capacidade muito alta de progredir com a bola, passando a ser uma escolha regular para transportar a bola para o ataque holandês, mesmo que, uma vez chegada ao meio-campo adversário, retome a sua posição interior. Mas, ainda assim, estes casos são a excepção. O normal é aquilo que uma jogadora promete em Sub-16 pode cumprir nos Sub-18.
A partir do primeiro dia de competição, os treinadores passam a ter disponível a informação que é possível recolher por assistir às partidas. Espanto-me sempre que as equipas não invistam mais em observar os adversários neste tipo de torneio. Reconheço que possa ser uma dificuldade logística, reservar alguém para ficar no pavilhão a acompanhar jogos de equipas que poderão nem vir a ser nossas adversárias. Mas, sendo este o meu terceiro torneio europeu, contam-se pelos dedos os treinadores que observam para lá daquela que será a sua adversária no dia seguinte. Obviamente que podem recorrer aos vídeos para preparar a informação sobre o adversário. Mas, com as equipas a evoluir no pavilhão, existem dinâmicas entre treinadores e jogadoras que, a meu ver, dão uma imprescindível ideia daquilo que poderemos vir a defrontar.
Com estas informações reunidas, testa-se o trabalho feito por cada seleção na preparação para a competição. Ao longo de um torneio percebemos quem tem planos alternativos, equipas mais fortes em termos táticos e maior sagacidade em termos de ler adversários. Aqueles que contam com todos estes três argumentos, chegam a mudar de “cara” de um dia para o outro, apresentando esquemas defensivos preparados para os principais jogadores adversários. Outros, mais confiantes no seu instinto, preferem reagir a quente, enquanto o jogo decorre, por vezes resgatando do banco jogadores que nem sequer foram utilizados no dia anterior.
Tudo isto, enquanto simulação de uma temporada, permite-nos uma aprendizagem e um conhecimento enquanto treinadores e observadores que não é equiparável noutras ocasiões. E poder fazê-lo a ver basquetebol de alto nível é, sem dúvida, uma oportunidade que devemos aproveitar.
Luís Cristóvão