Esta foi uma semana complicada para dar seguimento ao bom trabalho que tinha culminado, faz hoje oito dias, numa luta apertada pela vitória. Um dos treinos foi, literalmente, para esquecer, devido a compromissos da equipa com uma iniciativa do clube. Para os miúdos, foi um dia diferente, cheio de riso e brincadeira, mas a quebra na rotina de treino acabou por se ressentir. No resto da semana, houve que lutar um pouco para reconquistar a equipa para o compromisso de trabalhar para melhorar, algo que se tem revelado quase como um dos objetivos da época.
Para além disso, esta também foi a semana em que voltamos a conviver com alguns problemas de comportamento dos nossos atletas. Se dúvidas houvessem, a experiência de conhecermos a fundo uma criança, através do trabalho diário que fazemos com ela, conjugada com a necessidade de acompanharmos também os pais, faz-nos esclarecer acerca de uma coisa: cada criança é a soma fiel das qualidades e defeitos dos seus pais.
Por isso, quando temos que lidar com um atleta que arranja desculpas para não fazer os exercícios que menos gosta, que “inventa” pequenas lesões para descansar a meio do treino, que falta com regularidade aos seus compromissos, há um pai ou uma mãe que reforça essas opções. Quando uma criança tem por hábito colocar em causa, usando maus modos, as ordens que recebe, quando se exalta perante a falha ou desiste de fazer determinados esforços, há um avô ou uma avó que reforça essas opções. Quando um miúdo passa horas a jogar computador, não lhe custando aceitar os problemas que isso lhe causa, quando não tem um pingo de ambição para vencer nem um desafio entre colegas no treino, quando sente que todo o mundo existe para o atacar, há alguém no seu entorno familiar que alimenta essas opções.
Quem é e para que serve, então, o treinador? Ao treinador não deveria caber liderar a educação de uma criança, mas sim enquadrá-la na situação da prática desportiva. Ao treinador não deveria caber ser ele a pessoa que primeiro identifica problemas ou dificuldades que a criança sente, mas sim complementar a ação do seu entorno familiar na procura de as resolver. Ao treinador não deveria, no fundo, estar entregue um papel de linha da frente na formação do jovem, mas sim a monitorização da mesma nos valores definidos em conjunto com os pais de todos os elementos da equipa.
Talvez esteja a cair para cima dos ombros do treinador um peso que este não consegue suportar, tendo, ao mesmo tempo, que trabalhar com as crianças para estas se tornarem em atletas e em adultos saudáveis. Talvez alguns pais estejam de braços cruzados a assistir. Talvez tudo isto seja um bocadinho errado. Mas caberá ao treinador, uma vez mais, encontrar o caminho para levar a equipa a sair do labirinto.
Segunda-feira há treino!